São Paulo, Quinta-feira, 07 de Janeiro de 1999
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Perigo vermelho

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - As relações de Itamar Franco com Pedro Malan e cia. nunca foram muito boas. Antes, porém, Fernando Henrique Cardoso fazia o meio de campo. Agora, ele é o alvo.
Bem a seu estilo, FHC estava até ontem à tarde achando que tudo continuava cor-de-rosa.
A ameaça de calote era só "mais uma do Itamar". Mero jogo para marcar posição e se destacar entre os novos governadores.
Não foi só isso. Surpreendendo Brasília, desnorteando a área econômica e deixando FHC uma fera, Itamar fez o que disse: decretou a moratória.
Longe de ser um bom começo para as relações de FHC com Itamar, a decisão pode gerar um efeito em série desastroso para a política econômica e o ajuste fiscal. E se os demais governadores de oposição gostarem da idéia?
Olívio Dutra (RS) já não é dos mais moderados. Anthony Garotinho (RJ) vem engrossando a voz. Zeca do PT (MS) e Jorge Viana (AC) encontraram terras arrasadas.
Com o calote, Itamar está inclusive se habilitando a liderar os diabinhos dos outros Estados e infernizar a vida de FHC. Que já não anda um paraíso.
Cresce, assim, a importância do discurso de Mário Covas no domingo. Se Covas é quem verbaliza os interesses do PSDB e mais bate nos juros altos, é também a garantia de lealdade a FHC numa hora de apuros, como esta.
De quebra, o inferninho dá um prazer especial a Itamar: o de ajudar a acuar Pedro Malan.
O ministro estava com tudo depois de renegociar com o FMI, receber juras de amor do PFL e manobrar com o Ministério do Desenvolvimento e com cargos federais.
Se há uma regra infalível é a de que os que entram em evidência levam cacetadas rapidamente. Malan está levando as suas. Vai conviver com o apetite dos novos governadores, já teve de bater ontem às portas do PFL e começa a vislumbrar uma ofensiva de ministros "desenvolvimentistas".
Itamar é apenas uma parte desse cerco. Mas é das mais contundentes.


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