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Gatos e "harfes"
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Considero lamentável o espetáculo oferecido pelo governo neste início de segundo mandato.
O saco de gatos do primeiro período
continua voraz e excitado, com todo
mundo querendo entrar dentro dele,
disputando fatias de verbas, tamanho
de ministérios etc. Não há um plano
específico para nada, a não ser as obviedades dos discursos oficiais do presidente e de seus auxiliares, na base do
""Arrecuem os harfes" (mais adiante
relembrarei esse plano de ""ação").
Evidente que o governo está interessado em obter mais grana para tampar os buracos provocados não por
empréstimos contraídos para obras
que geram empregos e desenvolvimento. A brilhante criatividade da equipe
econômica não vai além da criação,
ressurreição ou majoração de impostos. Tudo para cobrir os déficits que
nunca são cobertos, nem mesmo pelo
dinheiro com que entregaram as estatais, que foi sorvido pelo ralo dos juros
da dívida externa.
Voltarei ao assunto mais vezes. Por
ora, duas explicações. Nos anos 60,
quando a moda entre os intelectuais
era ser nacionalista, deixei claro em
artigos e livros que eu não era um nacionalista ortodoxo, fundamentalista.
Daí que, em matéria de privatização
das estatais, considero que elas não
devem ser intocáveis. Mas nem por isso podem ser vendidas da forma indecorosa com que foram entregues à cupidez do mercado.
A segunda explicação é mais amena.
Houve um técnico, brilhante como
FHC, que, quando o time dele estava
sendo sovado (como o Brasil de hoje),
tinha a fórmula salvadora de recuar
os halfes -no futebol de antanho o
pessoal do meio-campo tinha esse nome.
Como a prosódia do cara era precária, quando ele via as coisas pretas
gritava do túnel: ""Arrecuem os harfes!". FHC tem prosódia melhor, mas
lida com os "harfes" do mesmo modo.
Não me espanta que haja tanta gente
querendo ser "harfe" dele.
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