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ANTONIO DELFIM NETTO
"Çosialismo 21"
A TERCEIRA posse (de um
número que ele pretende
infinito enquanto dure...) de
Hugo Chávez foi um espetáculo extraordinário.
A grande novidade foi o lançamento do "Çosialismo" do século
21. Talvez ele tenha abusado do velho dito latino "Semel in anno licet
insanire", que autoriza a todos,
uma vez por ano, fingir-se de louco.
O mais provável é que sua alegria
vá mostrar mais uma vez como o
caminho para o inferno é pavimentado por generosas intenções. E os
venezuelanos, com a "Ley Habilitante", vão aprender que aquele é
apenas a verdade descoberta tarde
demais...
Causou, entretanto, um enorme
e injustificado "frisson" no mercado financeiro nacional a sua afirmação de que vai "fechar" o seu
Banco Central. Falta de lógica da
tribo neoliberal!
Chávez descobriu como criar o
"homem novo" (alguém lembra de
descobertas semelhantes em outros carnavais?), que não se moverá pelos indecentes incentivos
egoístas do capitalismo, mas pela
solidariedade humana e pela obediência à vontade soberana do líder. Este saberá o que é o bem para
cada um de seus súditos e, melhor
do que qualquer empresário, como
combinar eficientemente os fatores de produção para atendê-los. A
inflação será apenas uma lembrança amarga de um tempo em que
uma organização social injusta lhes
era imposta. Logo, não é preciso
um Banco Central.
As sociedades que ainda não receberam a graça da "iluminação"
chavista terão, infelizmente, de
continuar a conviver com seus
Bancos Centrais e, o que é pior, terão de dar-lhes autonomia operacional para que possam atingir as
metas que receberem do poder político. A experiência mundial dos
últimos 30 anos mostrou que a
"meta inflacionária" é um sistema
muito superior de controle da inflação do que os "pactos" entre governo, trabalhadores e empresários que costumávamos utilizar
nos anos 70/80.
No caso brasileiro, cremos que
sejam necessários pelo menos dois
aperfeiçoamentos para dar maior
transparência e credibilidade à
ação do Banco Central: 1º) uma clara definição de quais são os indicadores objetivos que separam o
"ruído" do fato, isto é, que mostram
quando a média do processo inflacionário (em torno da qual a taxa
de inflação varia aleatoriamente)
ameaça deslocar-se e exige, portanto, uma ação sobre a taxa de juros e 2º) os votos dos membros do
Copom devem ser justificados por
escrito e oportunamente publicados para que se conheçam suas razões.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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