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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Família Bittencourt
SÃO PAULO - São conhecidos os
casos de famílias que se dedicam a
uma única atividade e organizam
suas vidas em função daquilo,
criando muitas vezes até uma marca a partir do interesse comum.
Lembre-se, por exemplo, dos famosos velejadores da Família Schumann. Ou da Família Lima e suas
acrobacias musicais, além, é claro,
dos vocalistas rechonchudos da Fat
Family. A lista poderia se estender.
Mas há outro tipo de artistas reunidos em família. São menos notáveis do que notórios e, pelo menos
no Brasil, bem mais numerosos. Os
Bittencourt são um bom, ou um ótimo exemplo do que falamos. Aí está
uma família unida e vocacionada
para lidar com o dinheiro público.
Eduardo Bittencourt, o pai, é o
presidente do TCE-SP, o Tribunal
de Contas do Estado de São Paulo.
Não custa lembrar: é o órgão auxiliar da Assembléia Legislativa, encarregado de fiscalizar a correção
dos gastos do governo estadual.
Ficamos sabendo pela repórter
Lilian Christofoletti, desta Folha,
que os cinco filhos de Bittencourt
são funcionários do tribunal. Nenhum é concursado. As duas únicas
com formação superior recebem
cerca de R$ 12 mil líquidos mensais
cada uma. Isso mesmo. E até outro
dia ninguém as via pelo TCE.
Que nome devemos dar a isso?
"Nepotismo wagneriano" -homenagem a Richard Wagner, que sonhava com a "obra de arte total"?
Mas nosso artista vai bem além.
O Ministério Público paulista o
investiga por suspeita de remessa
ilegal de dinheiro para o exterior
(algo como US$ 15 milhões), recebimento de propina no exercício da
função e contratação de funcionários para fins particulares.
Bittencourt e seus seis colegas
conselheiros, todos com parentes
empregados por lá, têm cargos vitalícios. Sinecura? Um grande escracho. À exceção de um, são crias remanescentes do quercismo e da
gestão do "111". Seria o caso de perguntar não "para quê", mas "a
quem" serve este TCE? Eles fazem
o circo, mas somos nós os palhaços.
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