São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Família Bittencourt

SÃO PAULO - São conhecidos os casos de famílias que se dedicam a uma única atividade e organizam suas vidas em função daquilo, criando muitas vezes até uma marca a partir do interesse comum.
Lembre-se, por exemplo, dos famosos velejadores da Família Schumann. Ou da Família Lima e suas acrobacias musicais, além, é claro, dos vocalistas rechonchudos da Fat Family. A lista poderia se estender.
Mas há outro tipo de artistas reunidos em família. São menos notáveis do que notórios e, pelo menos no Brasil, bem mais numerosos. Os Bittencourt são um bom, ou um ótimo exemplo do que falamos. Aí está uma família unida e vocacionada para lidar com o dinheiro público.
Eduardo Bittencourt, o pai, é o presidente do TCE-SP, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Não custa lembrar: é o órgão auxiliar da Assembléia Legislativa, encarregado de fiscalizar a correção dos gastos do governo estadual.
Ficamos sabendo pela repórter Lilian Christofoletti, desta Folha, que os cinco filhos de Bittencourt são funcionários do tribunal. Nenhum é concursado. As duas únicas com formação superior recebem cerca de R$ 12 mil líquidos mensais cada uma. Isso mesmo. E até outro dia ninguém as via pelo TCE.
Que nome devemos dar a isso? "Nepotismo wagneriano" -homenagem a Richard Wagner, que sonhava com a "obra de arte total"? Mas nosso artista vai bem além.
O Ministério Público paulista o investiga por suspeita de remessa ilegal de dinheiro para o exterior (algo como US$ 15 milhões), recebimento de propina no exercício da função e contratação de funcionários para fins particulares.
Bittencourt e seus seis colegas conselheiros, todos com parentes empregados por lá, têm cargos vitalícios. Sinecura? Um grande escracho. À exceção de um, são crias remanescentes do quercismo e da gestão do "111". Seria o caso de perguntar não "para quê", mas "a quem" serve este TCE? Eles fazem o circo, mas somos nós os palhaços.

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