São Paulo, domingo, 7 de fevereiro de 1999

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A UE cai no samba

ELIANE CANTANHÊDE

Bruxelas - O presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Pedro Malan e o FMI têm que correr em desabalada carreira para limpar rapidamente o ambiente econômico brasileiro e garantir que joguem debaixo do tapete a criminalidade no Rio.
Além de todos os motivos para a pressa, há um político-diplomático: presidentes e primeiros-ministros dos 48 países da União Européia, da América Latina e do Caribe marcaram seu primeiro encontro para 28 e 29 de junho. Logo no Brasil. Logo no Rio.
A UE prepara boas notícias para a reunião, que a globalização chama de "cimeira" (como em Portugal) ou de "cumbre" (em espanhol).
A melhor delas é para o México: os europeus querem criar um acordo de livre comércio para alguns dos seus produtos. A mais modesta é para o Mercosul: o máximo que admitem para Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai são meras "trocas preferenciais".
Ambos ainda dependem da aprovação final da burocrática UE, mas devem sair para dar algum sabor a uma reunião programada para registrar a foto da turma toda sorrindo e um documento com troca de amabilidades.
Parece pouco, mas do ponto de vista dos europeus será um lance a mais no jogo de estica-estica com os norte-americanos em torno do hemisfério.
Os EUA esticam a corda ao norte, tentando cooptar os latino-americanos para o Nafta, ou seja, definitivamente para debaixo de suas asas. A UE estica ao sul, para que Chile, Bolívia e os demais sul-americanos integrem o Mercosul e batam asas sobre o Atlântico.
Enquanto eles brincam de hegemonia mundial, tentamos tirar um naco maior dos bilhões de euros dos organismos comunitários para projetos, pesquisas, incentivos e toda essa parafernália grata aos países periféricos.
E que se cuidem todos na reunião do Rio. Por mais que não passe de um gesto diplomático, repórteres assassinos vão querer sangue: a crise brasileira, o caso Pinochet e a desordem política paraguaia, por exemplo.
Se, além disso, o governo do Rio não conseguir com os traficantes uma trégua como a da Eco-92, vai ser um Carnaval fora de época. As fotos podem não sair tão sorridentes assim.



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