São Paulo, domingo, 7 de fevereiro de 1999

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O exemplo de Vidocq

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O que mais ouvi e li a respeito da nomeação de Armínio Fraga para a presidência do Banco Central foi a constatação de que o governo estava entregando a custódia do galinheiro à raposa. Ou o banco de sangue ao vampiro.
Em conversa com Domingos Meirelles, ele me lembrou a história de Vidocq, François Eugene Vidocq (1775-1857), nascido em Arras, famoso ladrão e chefe de ladrões. Foi condenado a galés, em Brest, fugiu três vezes da cadeia.
Sua habilidade era tal e tamanha que, em 1809, a polícia de Paris, incapaz de controlar os bandidos da cidade, pediu que ele organizasse um grupo de colegas seus para combater a violência e o roubo que campeavam nos bairros mais ricos. A princípio, o mandato era secreto, mas logo foi oficializado.
Vidocq tornou-se de fato o chefe de polícia de Paris. Sua história inspirou Balzac, que o imortalizou como um dos mais famosos personagens de "A Comédia Humana", com o nome de Vautrin.
Creio que foi ele o autor (muito plagiado entre nós) do lema "Rouba, mas faz". Não se sabe ao certo quanto ganhava para tomar conta do galinheiro. Tem-se como certo que ele mesmo se pagava ficando com as galinhas que quisesse.
Li que Armínio Fraga ganhava como funcionário de Soros a insignificância de US$ 700 mil anuais. Isso o colocava entre os executivos bem pagos, mas sem nenhum exagero. Até que era um salário modesto. Como presidente do Banco Central vai ganhar R$ 94 mil por ano, o que dá aproximadamente, com a nova realidade da moeda norte-americana, uns US$ 50 mil anuais.
Deve ser dono de uma fortuna pessoal, que poderia trabalhar até por um dólar simbólico ("one man dollar"). Ou um patriota como nunca tivemos igual, que para salvar a pátria aceita viver com menos de um décimo do que estava habituado a viver.
O importante é que ele dê um jeito na crise que atravessamos. O chato é se houver custo e malefício.



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