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O exemplo de Vidocq
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - O que mais ouvi e li a
respeito da nomeação de Armínio
Fraga para a presidência do Banco
Central foi a constatação de que o governo estava entregando a custódia do
galinheiro à raposa. Ou o banco de
sangue ao vampiro.
Em conversa com Domingos Meirelles, ele me lembrou a história de Vidocq, François Eugene Vidocq
(1775-1857), nascido em Arras, famoso
ladrão e chefe de ladrões. Foi condenado a galés, em Brest, fugiu três vezes
da cadeia.
Sua habilidade era tal e tamanha
que, em 1809, a polícia de Paris, incapaz de controlar os bandidos da cidade, pediu que ele organizasse um grupo de colegas seus para combater a
violência e o roubo que campeavam
nos bairros mais ricos. A princípio, o
mandato era secreto, mas logo foi oficializado.
Vidocq tornou-se de fato o chefe de
polícia de Paris. Sua história inspirou
Balzac, que o imortalizou como um
dos mais famosos personagens de "A
Comédia Humana", com o nome de
Vautrin.
Creio que foi ele o autor (muito plagiado entre nós) do lema "Rouba,
mas faz". Não se sabe ao certo quanto
ganhava para tomar conta do galinheiro. Tem-se como certo que ele
mesmo se pagava ficando com as galinhas que quisesse.
Li que Armínio Fraga ganhava como funcionário de Soros a insignificância de US$ 700 mil anuais. Isso o
colocava entre os executivos bem pagos, mas sem nenhum exagero. Até
que era um salário modesto. Como
presidente do Banco Central vai ganhar R$ 94 mil por ano, o que dá
aproximadamente, com a nova realidade da moeda norte-americana, uns
US$ 50 mil anuais.
Deve ser dono de uma fortuna pessoal, que poderia trabalhar até por um
dólar simbólico ("one man dollar").
Ou um patriota como nunca tivemos
igual, que para salvar a pátria aceita
viver com menos de um décimo do que
estava habituado a viver.
O importante é que ele dê um jeito
na crise que atravessamos. O chato é
se houver custo e malefício.
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