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Na dança dos juros
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Até outro dia, a taxa de juros tinha
de ser alta, para seduzir os especuladores. Agora, tem de ser mais alta, para espantar os consumidores.
A perversidade dessa lógica econômica ignora as necessidades dos seres
humanos. Se os juros têm de ficar elevados para esfriar a demanda e controlar a inflação, é bom lembrar que
sem consumo não há razão para produzir e sem produção não há razão
para manter empregos.
É isso que se pretende com a renegociação dos US$ 41,5 bilhões? E as
famílias brasileiras, como ficam nessa? E as empresas, o que vão fazer? Exportar tudo?
Não há dúvida de que o realismo do
câmbio estimulará as exportações e
ajudará a recompor as nossas reservas
cambiais. Mas isso é meio, e não fim.
O fim é preservar a saúde do povo,
melhorar a educação e elevar o seu
padrão de vida.
Se nada disso pode ser atingido, estamos num barco que pode até chegar
ao porto pretendido, mas encontrará
lá uma terra arrasada e um doloroso
vazio humano.
Enquanto na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos e em outros
países os juros baixam para se ativarem as economias, no Brasil eles não
param de subir.
É uma história triste. Parece uma fatalidade. O dicionário define a fatalidade como a situação na qual o curso
do mundo e a existência humana são
infalivelmente dirigidos e determinados por uma entidade superior, cega
ou insondável, sendo que dela ninguém escapa.
No caso brasileiro, a produção, o
consumo e o emprego passaram a ser
determinados por essa nefasta entidade, a taxa de juros, qualificada como
"escorchante" (quando ainda era
mais baixa) pelo presidente da República.
Os dados são inequívocos: quando o
PIB cresce, o desemprego decresce, e
vice-versa. Em 1994, o PIB "per capita" cresceu 4,3%, e a taxa de desemprego desceu para 6,4%. Em 1997, o
PIB cresceu apenas 1,5%, e o desemprego ultrapassou a casa dos 8%. Para
1999, com a previsão de um PIB de
-3%, só se pode esperar 9% ou 10% de
desemprego- há quem estime 12%.
Uma vez, Margaret Thatcher disse a
um ministro que pretendia praticar o
mesmo tipo de maldade contra a economia britânica: "Se deixarmos de lado as raízes históricas da sociedade inglesa, os princípios filosóficos da nossa democracia, a tradição de respeito
que sempre tivemos pelo nosso povo e
as necessidades econômicas e sociais
de cada um dos cidadãos da Inglaterra, a sua lógica está rigorosamente
correta...".
O Brasil está precisando mais de
ações pragmáticas e menos de exercícios de lógica. Não seria prudente religar o fio-terra dos que se dizem donos
do nosso destino?
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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