São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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MUDANÇA NOS EUA

A definição do nome de John Forbes Kerry como candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA dá início a uma campanha eleitoral que contrasta fortemente com a anterior. Quatro anos atrás, afirmava-se, ainda que jocosamente, que não haveria muita diferença em eleger o republicano George W. Bush ou o democrata Al Gore, desde que Alan Greenspan fosse mantido à frente do Fed, o banco central dos Estados Unidos. Com isso, o "fundamental", ou seja, a administração econômica, permaneceria.
Como se sabe, a vitória de Bush no contestado pleito de 2000 acabou por provar que a política não deve ser menosprezada e que existem, sim, diferenças entre democratas e republicanos, embora defini-las nem sempre seja uma tarefa trivial.
Muitos analistas apostavam que, em virtude das contingências eleitorais, Bush tentaria governar mais ao centro, em busca de ampliar apoios e diminuir a margem de questionamento à sua legitimidade. Não foi o que se verificou, mesmo antes do 11 de Setembro. A lista de realizações com as impressões digitais de um presidente ultraconservador de fato impressiona.
Em março de 2001, com menos de três meses no cargo, ele retirou os EUA do Protocolo de Kyoto, o acordo internacional que pretende regular as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Vieram setembro e os ignominiosos atentados do dia 11, que acabaram, por linhas tortas, a consagrar a liderança presidencial. Os índices de popularidade de Bush superaram os 90%. Os EUA responderam ao atentado terrorista invadindo o Afeganistão, numa ofensiva que contou com amplo respaldo internacional. A seguir, Bush sentiu-se à vontade para agir de forma unilateral, desprezar importantes e antigos aliados, como a França e a Alemanha, e promover uma invasão ao Iraque sem o aval da ONU.
No plano do multilateralismo, o presidente norte-americano também atuou contra a instalação do TPI (Tribunal Penal Internacional) e abandonou o TAB, o Tratado Antimísseis Balísticos, principal acordo de desarmamento nuclear assinado com a URSS, da qual a Rússia é sucessora.
Para agradar a seus partidários mais conservadores, Bush passou a financiar exclusivamente programas anti-Aids que pregassem a abstinência sexual. Também propôs uma lei para banir a clonagem terapêutica e, mais recentemente, sugeriu uma emenda constitucional para proibir o casamento homossexual.
Essas e outras decisões polêmicas acabaram por dividir os norte-americanos. Até que ponto Kerry, porém, irá acentuar seu perfil democrata na campanha ainda é uma incógnita. Se o fizer, estará consagrando a idéia de que seu partido tende a ser mais multilateralista em matéria internacional, mais aberto em questões sociais e mais protecionista na economia. Ocorre, porém, que norte-americanos são acima de tudo pragmáticos, o que torna essas distinções muito mais teóricas do que práticas.



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