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MUDANÇA NOS EUA
A definição do nome de John
Forbes Kerry como candidato
do Partido Democrata à Presidência
dos EUA dá início a uma campanha
eleitoral que contrasta fortemente
com a anterior. Quatro anos atrás,
afirmava-se, ainda que jocosamente,
que não haveria muita diferença em
eleger o republicano George W.
Bush ou o democrata Al Gore, desde
que Alan Greenspan fosse mantido à
frente do Fed, o banco central dos
Estados Unidos. Com isso, o "fundamental", ou seja, a administração
econômica, permaneceria.
Como se sabe, a vitória de Bush no
contestado pleito de 2000 acabou por
provar que a política não deve ser
menosprezada e que existem, sim,
diferenças entre democratas e republicanos, embora defini-las nem
sempre seja uma tarefa trivial.
Muitos analistas apostavam que,
em virtude das contingências eleitorais, Bush tentaria governar mais ao
centro, em busca de ampliar apoios e
diminuir a margem de questionamento à sua legitimidade. Não foi o
que se verificou, mesmo antes do 11
de Setembro. A lista de realizações
com as impressões digitais de um
presidente ultraconservador de fato
impressiona.
Em março de 2001, com menos de
três meses no cargo, ele retirou os
EUA do Protocolo de Kyoto, o acordo internacional que pretende regular as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Vieram setembro
e os ignominiosos atentados do dia
11, que acabaram, por linhas tortas, a
consagrar a liderança presidencial.
Os índices de popularidade de Bush
superaram os 90%. Os EUA responderam ao atentado terrorista invadindo o Afeganistão, numa ofensiva
que contou com amplo respaldo internacional. A seguir, Bush sentiu-se
à vontade para agir de forma unilateral, desprezar importantes e antigos
aliados, como a França e a Alemanha, e promover uma invasão ao Iraque sem o aval da ONU.
No plano do multilateralismo, o
presidente norte-americano também
atuou contra a instalação do TPI (Tribunal Penal Internacional) e abandonou o TAB, o Tratado Antimísseis
Balísticos, principal acordo de desarmamento nuclear assinado com a
URSS, da qual a Rússia é sucessora.
Para agradar a seus partidários
mais conservadores, Bush passou a
financiar exclusivamente programas
anti-Aids que pregassem a abstinência sexual. Também propôs uma lei
para banir a clonagem terapêutica e,
mais recentemente, sugeriu uma
emenda constitucional para proibir o
casamento homossexual.
Essas e outras decisões polêmicas
acabaram por dividir os norte-americanos. Até que ponto Kerry, porém,
irá acentuar seu perfil democrata na
campanha ainda é uma incógnita. Se
o fizer, estará consagrando a idéia de
que seu partido tende a ser mais multilateralista em matéria internacional, mais aberto em questões sociais
e mais protecionista na economia.
Ocorre, porém, que norte-americanos são acima de tudo pragmáticos,
o que torna essas distinções muito
mais teóricas do que práticas.
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