São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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CLÓVIS ROSSI

Obras públicas e cocaína

SÃO PAULO - O leitor Paulo Hirano vibrou ontem, no "Painel do Leitor", com a manutenção da prisão do governador José Roberto Arruda (é esquisito um cidadão ser, ao mesmo tempo, governador e prisioneiro, mas vamos em frente).
"Espero que sirva de exemplo para que outros não venham imitar a sua façanha nefasta", escreveu Hirano. Tomara mesmo, caro Paulo, mas desconfio que seja vã ilusão.
No mesmo dia, o repórter Flávio Ferreira mostrava que, em 303 obras públicas investigadas em 2009 pela Polícia Federal, de cada R$ 100 destinados a elas, em média R$ 29 foram superfaturados.
Nem tráfico de cocaína dá ganho tão elevado. E é uma atividade em que se correm mais riscos.
Uma das obras periciadas foi a ferrovia Norte-Sul. Ajuda-memória: no começo do governo José Sarney, quando a democracia reestreava no Brasil, Janio de Freitas antecipou o ganhador da concorrência para essa estrada de ferro, publicando anúncio cifrado nas páginas de classificados desta Folha. A concorrência foi anulada.
Serviu de exemplo para que outros não imitassem o trambique?
A linha do tempo demonstra justamente o contrário: o caso Norte-Sul ocorreu no governo de um então neopeemedebista, de alma pefelista (hoje DEM), tanto que havia sido presidente da Arena, o partido de sustentação da ditadura militar que se instalou a pretexto de combater a subversão e a corrupção.
Depois dele, governaram o Brasil todas as linhagens políticas relevantes, até um aventureiro sem linhagem, caso de Fernando Collor de Mello, afastado exatamente por "falta de decoro".
Serviu de exemplo para que outros não praticassem trambiques?
O belo trabalho de Flávio Ferreira demonstra justamente o contrário, até porque há contratos periciados desde 1994 (governo Itamar Franco) até 2009 (governo Lula).

crossi@uol.com.br


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