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CLÓVIS ROSSI
Obras públicas e cocaína
SÃO PAULO - O leitor Paulo Hirano vibrou ontem, no "Painel do Leitor", com a manutenção da prisão
do governador José Roberto Arruda (é esquisito um cidadão ser, ao
mesmo tempo, governador e prisioneiro, mas vamos em frente).
"Espero que sirva de exemplo para que outros não venham imitar a
sua façanha nefasta", escreveu Hirano. Tomara mesmo, caro Paulo,
mas desconfio que seja vã ilusão.
No mesmo dia, o repórter Flávio
Ferreira mostrava que, em 303
obras públicas investigadas em
2009 pela Polícia Federal, de cada
R$ 100 destinados a elas, em média
R$ 29 foram superfaturados.
Nem tráfico de cocaína dá ganho
tão elevado. E é uma atividade em
que se correm mais riscos.
Uma das obras periciadas foi a
ferrovia Norte-Sul. Ajuda-memória: no começo do governo José Sarney, quando a democracia reestreava no Brasil, Janio de Freitas antecipou o ganhador da concorrência
para essa estrada de ferro, publicando anúncio cifrado nas páginas
de classificados desta Folha. A concorrência foi anulada.
Serviu de exemplo para que outros não imitassem o trambique?
A linha do tempo demonstra justamente o contrário: o caso Norte-Sul ocorreu no governo de um então neopeemedebista, de alma pefelista (hoje DEM), tanto que havia
sido presidente da Arena, o partido
de sustentação da ditadura militar
que se instalou a pretexto de combater a subversão e a corrupção.
Depois dele, governaram o Brasil
todas as linhagens políticas relevantes, até um aventureiro sem linhagem, caso de Fernando Collor
de Mello, afastado exatamente por
"falta de decoro".
Serviu de exemplo para que outros não praticassem trambiques?
O belo trabalho de Flávio Ferreira demonstra justamente o contrário, até porque há contratos periciados desde 1994 (governo Itamar
Franco) até 2009 (governo Lula).
crossi@uol.com.br
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