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LIXO MUNICIPAL
O descrédito dos governantes municipais junto à população paulistana atingiu intensidade rara na história da cidade. Pesquisa Datafolha divulgada quinta-feira por este jornal
traduz em números a sensação, hoje
disseminada pelas ruas, de que São
Paulo chafurda num mar de lama patrocinado por algumas de suas mais
altas autoridades públicas.
Nada menos que 86% dos entrevistados acreditam que muitos vereadores estejam envolvidos na rede de
corrupção armada em torno das administrações regionais. É grave, porém, que ao mesmo tempo 72% dos
paulistanos não se lembrem em
quem votaram nas eleições para a
Câmara Municipal em 96. O cidadão
demonstra pela política local, justamente aquela que em tese mais diretamente afeta o seu cotidiano, um
desinteresse que acaba por facilitar a
formação de quadrilhas como as que
hoje são objeto de investigação pelo
Ministério Público e pela CPI instaurada a muito custo na Câmara.
A atitude omissa do eleitor no entanto não explica nem, muito menos, justifica o grau de deterioração
política a que chegou a gestão atual
-fato que se reflete na avaliação que
os paulistanos fazem da administração Celso Pitta, considerada
ruim/péssima por 63% dos entrevistados, contra apenas 9% que a consideram ótima/boa.
Reportagem publicada hoje por esta Folha sobre cooperativas que promovem loteamentos clandestinos
em São Paulo é mais um forte indício
de que a máfia da corrupção atravessa de alto a baixo a administração
municipal e chega até a Assembléia
Legislativa do Estado. Num mesmo
negócio, há supostos pagamentos de
propinas para o deputado Conte Lopes (PPB), para dois assessores do
vereador Cosme Lopes (líder do PPB
na Câmara), para uma delegacia seccional, para o Depatri (ironicamente
o departamento da Polícia Civil que
investiga crimes contra o patrimônio), para um soldado da Polícia Florestal e para um funcionário da administração regional Jaçanã-Tremembé. Difícil encontrar exemplo
mais elucidativo de como supostamente opera essa máfia informal que
achaca o cidadão e dilapida a cidade.
Uma das causas do atual descalabro
administrativo é evidentemente o loteamento das regionais promovido
por Pitta entre vereadores que o
apóiam. A cidade foi como que feudalizada para atender a interesses
privados de grupos incrustados na
administração pública.
Hoje, passados pouco mais de dois
anos do mandato de Pitta, a sensação
é de que houve uma espécie de institucionalização do gangsterismo na
maior cidade do país. Mesmo conhecendo-se as dificuldades de que as
investigações, sobretudo na Câmara,
cheguem às últimas consequências,
essa é uma chance, talvez única, que
a cidade tem para começar a banir de
vez uma herança política que já lhe
custou caro demais.
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