São Paulo, Domingo, 07 de Março de 1999
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Rainha da Inglaterra

CARLOS HEITOR CONY


Rio de Janeiro - A criatividade do brasileiro é mais ou menos proporcional à sua credibilidade. Temos um regime presidencialista para evitar, entre outras coisas, que o presidente da República seja uma espécie de rainha da Inglaterra. Gostamos de quem mata a cobra e mostra o pau. Daí a resistência ao parlamentarismo.
Isso valeria para qualquer outro país, menos para o Brasil, que, em matéria de criar terceiras, quartas e quintas vias, nunca foi depreciado. Temos um presidente da República, por sinal reeleito no primeiro turno, que encarna o papel de rainha da Inglaterra. Aliás, com mais entusiasmo e veemência do que a própria rainha.
Nem vale a pena -nem haverá espaço- citar os exemplos de que o governo está em mãos não de um gabinete, mas de gabinetes fragmentados por aí. Exemplo da semana: o presidente deseja baixar os juros, mas os juros aumentaram para 45%. O presidente não quer aumentar a gasolina, a gasolina aumentou.
Basta o presidente declarar que quer ou não quer alguma coisa para essa coisa acontecer ou não acontecer às avessas de sua vontade.
O presidente quer se dedicar ao social, mas o FMI não deixa. O presidente quer colocar um cidadão na Petrobrás, mas não pode porque a mídia e o PFL acham que o cidadão não é confiável.
Exagerando um pouco: o presidente nem decide mais sobre seus repousos à beira-mar: a meteorologia não obedece à sua vontade, e cai um dilúvio.
A recente reunião com os governadores foi mais uma prova da função decorativa que ele exerce. Num regime parlamentarista ortodoxo, o poder executivo estaria com o parlamento. No regime atual, o poder que interessa é do FMI por meio de curiosa clonagem na equipe econômica.
Digo tudo isso porque estou preocupado com o Oscar que Fernanda Montenegro merece. Ficaria mais tranquilo se soubesse que FHC era contra. E tudo fizesse para derrubá-la.


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