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ELIANE CANTANHÊDE
Que se locupletem todos
BRASÍLIA - O senador petista Delcídio Amaral, presidente da CPI dos
Correios, foi chamado de "judas", de
"traidor" e de "canalha". Pela oposição? Não. Pelo também petista Jorge
Bittar, que não acatou a votação do
relatório final da comissão e queria
um relatório opcional do partido.
Delcídio, um técnico da Petrobras
filiado ao PT, mas com pouco traquejo político, ficou entre a cruz e a espada, ou melhor, entre o PT e Lula.
Para o partido, o ideal seria derrubar o relatório do deputado Osmar
Serraglio (PMDB) e apagar rastros
petistas que levam ao "valerioduto".
Para Lula, o melhor seria acabar rapidinho com a CPI e as ameaças que
ficaram pendentes, como as de incluir seu nome e o de Lulinha no texto. O pedido para encerrar a CPI no
início de maio foi feito pessoalmente
por Lula a Delcídio -e ele cumpriu.
Apesar disso, Delcídio não pode ser
acusado de ter um comportamento
tendencioso pró-Lula, como muito
menos pró-PT. Era uma posição dificílima para qualquer um, e ninguém
é perfeito, mas ele se comportou decentemente entre os terremotos da
CPI. Algo que muitos petistas e muitos oposicionistas reconhecem.
Num telefonema suprapartidário,
ontem, o pefelista José Jorge consolou
Delcídio: "Antes ser chamado de judas e canalha por um deputado do
que pela opinião pública".
O pior e mais triste é que tenha havido tanta ferida e tanta dor e o paciente não tenha se recuperado. Os
mensaleiros estão ilesos, a instituição, ferida. O Conselho de Ética fez o
que pôde, mas o plenário virou as
costas para ele, para a verdade e para
a opinião pública.
Os réus escaparam; o Congresso é
que virou réu. Nove dos 15 integrantes do Conselho de Ética ameaçaram
renunciar, cinco (entre os melhores, é
claro) efetivamente o fizeram. E, se
eles não agüentaram mais, imagine-se a opinião pública ou o eleitor.
Na ressaca de ontem, comentava-se, entre a ira e a melancolia: já que é
assim, que se tragam Jefferson e Dirceu de volta. E locupletem-se todos.
@ - elianec@uol.com.br
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