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Mais ensino técnico
Projeto do MEC pretende induzir ampliação de vagas no sistema S para formação profissional, gargalo do crescimento
O CHAMADO sistema S,
composto pelos serviços sociais e de aprendizagem ligados a confederações setoriais, goza de merecido prestígio na sociedade. A
face mais visível de sua contribuição se apresenta na política
cultural, com o Sesc (Serviço Social do Comércio) à frente. Na
aprendizagem técnica, porém, a
estrutura pode ser mais bem
ajustada às necessidades do país.
Chegou a tal ponto o gargalo
nacional da mão-de-obra qualificada que empresas brasileiras
articuladas com o mercado global já começam a recrutar no exterior. Os serviços nacionais de
aprendizagem -Senai (indústria), Senac (comércio), Senar
(setor rural), Senat (transportes)
e Sescoop (cooperativismo)-
deveriam dar uma ajuda substancial para desfazer esse nó.
O sistema S arrecada de empresas R$ 8 bilhões por ano, ou
2,5% da folha de pagamento dos
respectivos setores. Cerca de
R$ 3,2 bilhões (40%) são destinados à formação profissional; o
restante (R$ 4,8 bilhões) vai para
serviço social. O ministro da
Educação, Fernando Haddad,
propõe um modelo de financiamento para inverter tal relação e
induzir a criação de até 2 milhões
de vagas de ensino técnico.
Dentro de poucas semanas a
idéia poderá materializar-se
num projeto de lei para instituir
cinco Fundos Nacionais de Formação Técnica e Profissional
(Funtep), um para cada setor.
Eles passariam a receber 60%
daquela dotação, ou R$ 4,8 bilhões. Além disso, as entidades
do sistema S seriam obrigadas
por lei a destinar estes recursos à
formação profissional em bases
diversas das atuais.
Todas as vagas teriam de ser
gratuitas e ocupadas por estudantes da rede pública ou bolsistas (não pagantes) da particular.
Em lugar de cursos de curta duração, como os que hoje predominam, os serviços teriam de
oferecer, de modo prioritário,
currículos que complementassem os três anos regulares de ensino médio com um ano a mais,
dedicado à formação técnica.
A grande inovação em exame
pelo governo residiria no critério
de distribuição dos recursos. Hoje os departamentos regionais
dos cinco serviços recebem uma
verba proporcional à arrecadação de sua base e a despendem
como julgam melhor. Se vingar a
proposta do MEC, pelo menos
80% dos R$ 4,8 bilhões projetados por ano seriam repassados
de modo proporcional ao número de vagas gratuitas oferecidas.
O dispositivo, engenhoso, introduziria um elemento de competição hoje ausente. O serviço
que conseguisse reduzir seus
custos e aumentar a quantidade
de alunos atendidos faria jus a
uma parcela maior do fundo.
Na concepção de Haddad, o
sistema de aprendizagem ganharia transparência. Tanto o custo
por aluno quanto a avaliação da
qualidade do ensino técnico oferecido seriam divulgados periodicamente. Haveria um ganho
considerável para o sistema S.
A idéia passa ao largo da tentação sempre presente no governo
de apropriar-se de recursos
alheios para desperdiçá-los na
reestatização de atividades que
são mais eficientes se realizadas
por organizações sociais. Cabe
ao poder público apenas dar-lhes
diretrizes claras e cobrar resultados -e o projeto dos Funteps
aponta nessa direção.
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