São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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VALDO CRUZ

Sem futuro

BRASÍLIA - Com a crise do dossiê dos gastos tucanos, se alguém tinha alguma dúvida, já não deve ter mais. O estado de beligerância entre governo e oposição sepulta, de vez, qualquer chance de algo realmente importante ser aprovado no Congresso até 2010. Culpa do dossiê? Claro que não.
Ele apenas expõe mais nitidamente a impossibilidade de uma convivência civilizada entre governistas e oposicionistas nesta altura do campeonato. Por responsabilidade dos dois lados.
Talvez mais do governo, que poderia ser menos agressivo em suas relações numa fase em que colhe bons frutos na economia e festeja popularidade em alta. É incrível como, mesmo assim, a equipe de Lula cria confusões.
Com isso, temas como as reformas política, tributária e da Previdência já podem ser transferidos para a agenda do próximo Congresso. Do atual, esqueçam.
Resultado: é muito provável que o mandato de deputados e senadores chegue ao fim com um saldo pífio, sem que o Legislativo consiga ocupar um papel propositivo.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, sabe desse risco. Ele ainda sonha em aprovar a reforma tributária. A política, que imaginou ser viável, não avançou. Infelizmente, apesar de seus esforços, ficará no mundo dos sonhos.
O fato é que o atual Congresso tende ao imobilismo diante da mistura de dois ingredientes: ânimos acirrados entre governistas e oposição e uma penca de parlamentares se movendo apenas diante das benesses ofertadas pelo Executivo.
Agora, não adianta varrer para debaixo do tapete a crise do dossiê dos gastos tucanos para pôr fim ao estado de letargia congressual. Pelo contrário, é preciso ir até o fim nesse escândalo para que não seja mais um sem solução.
O que fica difícil aceitar é como nosso Parlamento não consegue separar as disputas políticas cotidianas daquilo que realmente interessa ao eleitor, ao país.


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