|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Vozes no ciberespaço
RIO DE JANEIRO - Orson Welles
dizia que, certa vez, estivera a um
aperto de mão de Napoleão. Queria
dizer que, aos seis anos, em 1921,
apertou a mão de um homem muito, muito velho que, também em
criança, apertara a mão de Napoleão, que morreu em 1821. Improvável, mas possível.
Mais modesto do que Orson, contento-me com o fato de que, a qualquer hora, estou a um telefonema
de Carmen Miranda, que morreu
em 1955. Para isso, basta telefonar
para meu amigo Russo, ex-vocalista
e pandeiro do Bando da Lua e que,
com a morte recente de Lulu e
Harry, é o único sobrevivente entre
os antigos músicos de Carmen.
Aos 82 anos, Russo (ele prefere
ser chamado de Zeca) está firme, feliz e, há mais de 50, morando no
México. Acho um privilégio falar
com um homem que cantou durante anos com Carmen, viajou com
ela, viu-a rir e chorar, ouviu-a dizer
nome feio etc. E que, como todos,
nunca superou seu amor por ela.
Outro dia, Russo me mandou um
site com vozes ilustres do "seu tempo". Era só clicar. Cliquei e ouvi a
dicção estudada de Getúlio, o impagável sotaque de Jânio Quadros, a
fala mansa de JK. Uma emoção foi
escutar de novo os locutores: Luiz
Jatobá, Heron Domingues, Ramos
Calhelha. E mais: Ary Barroso comandando seu programa de calouros, Cecília Meireles dizendo um
poema e, "quando os ponteiros se
encontravam" (ao meio-dia, com
sol a pino), Chico Alves cantando
seu prefixo, "Boa Noite, Amor".
Outra atração do site é o famoso
"primeiro registro da voz humana",
pelo americano Thomas Edison,
em 1877. Só que, há pouco, descobriu-se que, em 1860, o francês
Scott de Martinville já tinha conseguido gravar vozes. Edison sabia de
Martinville, mas envernizou a cara-de-pau, patenteou o invento como
se fosse seu e ficou com as glórias. É,
Zeca, o mundo é dos espertos.
Texto Anterior: Brasília - Valdo Cruz: Sem futuro Próximo Texto: Alba Zaluar: Espíritos abalados Índice
|