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CLÓVIS ROSSI
Os novos intocáveis
SÃO PAULO - Uma vez, no século
passado, comia algo na lanchonete
da Assembleia Legislativa de São
Paulo até dar com a tabela do campeonato interno de futebol. Chamou-me a atenção o número alentado de times, ainda mais porque
boa parte dos funcionários era do
sexo feminino e o torneio interno
não as incluía.
Era uma evidência óbvia do inchaço típico do poder público.
Por isso, não me emocionou muito o bom trabalho de Silvia Amorim, no "Estadão", apontando o fato
de que "os deputados estaduais de
São Paulo parecem seguir alheios
ao combate do desperdício de dinheiro público".
Silvia refere-se especificamente a
atos dos dois meses mais recentes
da Mesa que "mantiveram antigas
regalias para deputados, como gabinetes especiais para ex-presidente,
ex-primeiro-secretário e ex-segundo-secretário, com carro oficial e
cargos de confiança".
Sou obrigado a confessar que ando, como a maioria da população,
meio anestesiado pela catarata de
escândalos dos últimos muitíssimos anos. Há coisa mais antiga, por
exemplo, do que a promiscuidade
entre empreiteiras e políticos?
Lembro-me que, anos atrás, um
repórter desta Folha infiltrou-se
numa reunião de empreiteiras e
saiu dela com um relato impressionante da promiscuidade.
O jornal publicou tudo. E daí?
Daí, nada. Nada acontece quando
se trata de corrigir um mundo político sumamente apodrecido.
Mas o que sacudiu minha anestesia foi uma entrevista de Barros
Munhoz (PSDB), presidente da Assembleia paulista, à rádio CBN, sobre a denúncia de Silvia Amorim.
Disse pérolas como "a Assembleia é
austera"; combater o inchaço denunciado "não é prioridade"; e algo
sobre sua aversão a "ser pautado
pela mídia".
Essa gente perdeu completamente o fio terra e a noção de prestação de contas.
crossi@uol.com.br
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