São Paulo, terça-feira, 07 de abril de 2009

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MARCOS NOBRE

O clube e a fotografia

É IMPRESSIONANTE como se multiplicam as listas de coisas que acabaram. Acabou "o Consenso de Washington", "o neoliberalismo", "a desregulação dos mercados", "a era de crescimento baseada no consumo dos EUA". E não falta quem se apresse em anunciar a ressurreição do FMI e uma "nova regulação".
Não custa lembrar que, não faz muito tempo, o deslumbramento ideológico do momento fazia listas semelhantes. E se apressava em vislumbrar um "novo Renascimento" e uma "democracia cosmopolita". Surfava na onda de liberalização de mercados dos anos 1980, empurrada pela revolução da informática e engrossada pela derrocada do bloco soviético. Deu no que deu.
A única coisa a se comemorar na atual crise é que ela não envolve diretamente tragédias planetárias como uma guerra mundial (mesmo que "guerra fria"). É um avanço considerável, mesmo que regressões civilizatórias possam sempre acontecer. A nova situação mostra que a saída da crise será muito mais complexa, e as negociações internacionais, muito mais amplas e demoradas do que em qualquer momento do século passado.
Espetáculos midiáticos como a reunião de clube do G20 servem para dar a impressão de que há algum tipo de controle sobre a situação. Indicam só muito vagamente o sentido das negociações globais por novas formas de regulação. Não apenas porque os países presentes à reunião estão tão perdidos quanto qualquer pessoa que teme por seu emprego. Também porque os mecanismos de negociação internacional disponíveis não estão à altura da crise.
O FMI só não desapareceu porque é grande demais para ser extinto. A OMC é hoje um tribunal de pequenas causas do comércio mundial. E a ONU tornou-se um gigantesco apêndice disfuncional de seu Conselho de Segurança. De seu lado, o presidente Obama insiste em ser um "cara legal". Mas em nenhum momento pretende abrir mão de que o dólar seja a moeda de referência internacional.
Não pretende de modo nenhum enfraquecer a hegemonia norte-americana. Sem mobilizações políticas nacionais e internacionais em direção diferente, o mais provável é que a recuperação mundial venha, mais uma vez, puxada pela recuperação da economia dos EUA. Com duas novidades realmente relevantes somente. Um novo arranjo econômico informal entre EUA, China, Japão e Alemanha. E, sob a liderança de Obama, um "vetor verde" deverá mesmo se tornar um elemento decisivo na nova etapa de desenvolvimento planetário.
É aqui que o Brasil pode ter peso e fazer a diferença. O clube é só para a fotografia.

nobre.a2@uol.com.br

MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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