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MARCOS NOBRE
O clube e a fotografia
É IMPRESSIONANTE como se
multiplicam as listas de coisas
que acabaram. Acabou "o
Consenso de Washington", "o neoliberalismo", "a desregulação dos
mercados", "a era de crescimento
baseada no consumo dos EUA". E
não falta quem se apresse em
anunciar a ressurreição do FMI e
uma "nova regulação".
Não custa lembrar que, não faz
muito tempo, o deslumbramento
ideológico do momento fazia listas
semelhantes. E se apressava em
vislumbrar um "novo Renascimento" e uma "democracia cosmopolita". Surfava na onda de liberalização de mercados dos anos 1980,
empurrada pela revolução da informática e engrossada pela derrocada do bloco soviético. Deu no
que deu.
A única coisa a se comemorar na
atual crise é que ela não envolve diretamente tragédias planetárias
como uma guerra mundial (mesmo
que "guerra fria"). É um avanço
considerável, mesmo que regressões civilizatórias possam sempre
acontecer. A nova situação mostra
que a saída da crise será muito mais
complexa, e as negociações internacionais, muito mais amplas e demoradas do que em qualquer momento do século passado.
Espetáculos midiáticos como a
reunião de clube do G20 servem
para dar a impressão de que há algum tipo de controle sobre a situação. Indicam só muito vagamente o
sentido das negociações globais
por novas formas de regulação.
Não apenas porque os países
presentes à reunião estão tão perdidos quanto qualquer pessoa que
teme por seu emprego. Também
porque os mecanismos de negociação internacional disponíveis não
estão à altura da crise.
O FMI só não desapareceu porque é grande demais para ser extinto. A OMC é hoje um tribunal de
pequenas causas do comércio
mundial. E a ONU tornou-se um
gigantesco apêndice disfuncional
de seu Conselho de Segurança.
De seu lado, o presidente Obama
insiste em ser um "cara legal". Mas
em nenhum momento pretende
abrir mão de que o dólar seja a
moeda de referência internacional.
Não pretende de modo nenhum
enfraquecer a hegemonia norte-americana.
Sem mobilizações políticas nacionais e internacionais em direção diferente, o mais provável é
que a recuperação mundial venha,
mais uma vez, puxada pela recuperação da economia dos EUA. Com
duas novidades realmente relevantes somente. Um novo arranjo econômico informal entre EUA, China, Japão e Alemanha. E, sob a liderança de Obama, um "vetor verde"
deverá mesmo se tornar um elemento decisivo na nova etapa de
desenvolvimento planetário.
É aqui que o Brasil pode ter peso
e fazer a diferença. O clube é só
para a fotografia.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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