São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Alerta geral

RIO DE JANEIRO - Não dá para entender a reação da classe política diante da decisão dos bancos internacionais que aconselharam cautela a investidores que têm negócios no Brasil ou com o Brasil.
Não faz muito, em eleição passada, um líder empresarial garantiu que haveria um êxodo de capital e de capitalistas para o exterior caso o candidato do PT ganhasse a eleição presidencial. Até hoje, não se sabe se foi uma simples cascata ou um código interno da classe patronal para impedir contribuições à campanha eleitoral daquele partido.
Agora, são os bancos estrangeiros -não todos, é verdade, mas os que se consideram mais por dentro das nossas mumunhas políticas- que dão o brado: a liderança de Lula nas pesquisas é em si uma ameaça aos investimentos. Ainda que não seja verdade, o alerta do capital estrangeiro faz estragos no público interno.
Com cinco meses de antecedência, já se percebem os movimentos explícitos dos interessados em manter não apenas a continuidade mas o continuismo da atual política econômica, que bateu todos os recordes em matéria de atrair o capital especulador em detrimento do capital produtor.
Por ora, são os bancos. Numa segunda etapa, serão os donos de terra que farão a mobilização contra qualquer candidatura que não seja afinada com a equipe neoliberal que está no poder há quase oito anos.
Pior ainda: as famosas vivandeiras (consultem o Elio Gaspari) já se assanham, excitadíssimas, rondando militares, na esperança de convencê-los do perigo que ameaça a paz social.
Como sabemos, o PT mudou de maquiagem e quase mudou de discurso. A birra nem é exatamente contra o partido, que tem intelectuais e pessoas confiáveis ao sistema. O medo é mesmo de Lula, que fala errado, não tem curso superior, é nordestino e talvez nem saiba onde fica a USP.


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