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ALERTA ENERGÉTICO
Na agenda que a estatização
das empresas de gás na Bolívia
fez emergir, destaca-se a necessidade
de reavaliar os rumos da política
energética do Brasil. Acelerar o investimento em hidroeletricidade e a
prospecção de gás de reservas brasileiras é a diretriz que deve nortear as
autoridades daqui para a frente.
O "Balanço Energético Nacional",
do governo federal, apura que, de
1970 a 2000, a oferta de energia no
país quase triplicou, e a participação
das diversas fontes na matriz energética sofreu grandes modificações.
Em 1970, petróleo e derivados respondiam por 37,7% da energia utilizada pelo país, e a lenha e o carvão
vegetal, por outros 47,6%.
Já em 2000, petróleo e derivados
respondiam por 45,5% da oferta de
energia, o gás natural chegava a
5,4%, e a energia hidráulica alcançava 15,7%. O peso da lenha e do carvão
vegetal havia recuado para 12,1%, e o
álcool da cana-de-açúcar atingia
10,9%. Tais mudanças refletiam o
grande avanço do país na extração de
petróleo em águas profundas e na
ampliação da oferta de energia hidroelétrica, de álcool e de gás.
Foram sobretudo os investimentos
no gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol),
cuja construção teve início em 1997 e
cuja operação comercial começou
em 1999, que permitiram a expansão
da oferta de gás natural. A estimativa
para 2010, com a plena operação do
Gasbol e de outras obras de porte,
era de que a participação do gás natural ultrapassasse 12% na matriz
energética brasileira.
A recente crise boliviana chama a
atenção para os riscos inerentes a essa estratégia energética. Está claro
que é prudente limitar a dependência
em relação ao gás boliviano. Isso exige, entre outros aspectos, encontrar
meios para tornar econômica a exploração das reservas de gás natural
descobertas na bacia de Santos.
Outro aspecto problemático diz
respeito à ausência de uma política
clara de preço para o gás natural. Até
o momento, a precificação do gás
natural vendido às distribuidoras
tem sido arbitrada pela Petrobras, segundo critérios pouco transparentes
e com baixo grau de previsibilidade.
Aparentemente, a Petrobras optou
por uma política de incentivo à expansão do consumo de gás, uma vez
que vem deixando de reajustar o preço da commodity. Por um lado, essa
decisão contribuiu para ampliar o
consumo do gás e conter a taxa de inflação. Por outro, ampliou o risco associado à previsibilidade do preço e
da oferta do combustível gasoso.
Além disso, a falta de uma política
clara de preços inibe a necessária
atração de novos investidores (para
além da própria Petrobras), que poderiam acelerar a exploração das reservas brasileiras de gás natural.
Esses problemas ligados ao gás estão longe de esgotar os impasses da
questão energética -que, em 2001,
levaram a um racionamento nacional a fim de evitar o "apagão". Vale
lembrar de outro, central: a virtual
estagnação do investimento na geração de energia hidroelétrica, uma
fonte que ostenta a vantagem evidente de ter um custo de operação mais
baixo e ser imune a risco geopolítico.
Há anos arrastam-se indefinições
quanto ao horizonte dos preços da
energia gerada pelas quedas d'água.
Também há anos não se encontra
solução para atender às exigências
das autoridades ambientais sem sacrificar a necessária ampliação da
oferta desse tipo de energia.
É incrível que o trauma do racionamento não tenha sido suficiente para
estimular a implementação de uma
política que garanta, com margens
técnicas e geopolíticas de segurança,
o suprimento da energia necessária
ao desenvolvimento do país. Que o
choque promovido pela Bolívia sirva
para despertar o sentido de urgência
onde prevalecia, fundada em premissas ingênuas sobre a realidade do
país vizinho, a acomodação.
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