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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Por que a morosidade no desenvolvimento da energia hídrica?
A crise do gás revelou uma triste
realidade: o Brasil tornou-se refém da Bolívia. Com todo o respeito
que essa nação merece, não tem cabimento o Brasil, com 188 milhões de
habitantes e US$ 600 bilhões de PIB
-e um país tão rico em energéticos-
ficar dependente da Bolívia, que tem 9
milhões de habitantes e US$ 10 bilhões
de PIB.
Tenho acompanhado o noticiário
sobre essa crise e senti falta de análises
que destaquem a imensa potencialidade do Brasil na área da hidroeletricidade. Poucas nações desfrutam do
que possuímos. Temos quase 20% da
água do mundo. É uma quantidade
colossal.
Ademais, a geração de energia por
meio de hidroelétricas tem externalidades preciosíssimas. Nos reservatórios, podem-se criar peixes em grande
profusão. Depois de passada pelas turbinas, a água pode ser utilizada para
irrigar grandes áreas de produção
agrícola. Em todo o processo, essa
água produz energia sem poluir e sem
causar danos ao ambiente. Ao contrário, a fauna e a flora das regiões das
usinas podem ser reconstruídas e melhoradas depois de eventuais desequilíbrios momentâneos causados pela
construção do projeto.
O que não se justifica é a generalização improcedente alegada por certos
"experts" do meio ambiente segundo
a qual a exploração do nosso potencial
hidroenergético é sinônimo de devastação da natureza. Com isso, dezenas
de grandes projetos continuam na gaveta enquanto nos ajoelhamos aos pés
da Bolívia para conseguir um aumento de preço tolerável do gás natural.
E sabe-se lá o que vai acontecer daqui para a frente. Os governantes bolivianos já falam em uma estonteante
elevação de preço da ordem de 45%,
passando dos atuais R$ 5,50 para R$ 8
o milhar de metro cúbico. É uma majoração insustentável para os consumidores individuais e para as indústrias, lembrando-se que muitas delas,
há pouco tempo, foram levadas a converter seus equipamentos para usar o
gás. Há setores que têm toda a produção atrelada a esse combustível, e a reconversão dos equipamentos para o
óleo combustível ou para outro energético implica despesas intoleráveis
para continuar competindo.
Que o ocorrido sirva de lição. Exploremos primeiro o que é nosso antes de
buscar o que é dos outros. Confiemos
em nossas instituições antes de assinar contratos com governos populistas, que, aos poucos, tomam conta da
América Latina. Usemos o nosso bom
senso antes de entrar em aventuras
perigosas.
Populismo é a prática de manipular
as emoções e conquistar o voto imediato dos eleitores. Desenvolvimento
é o exercício equilibrado de estratégias
voltadas para o futuro. São coisas
muito diferentes.
Das lições da crise, só podemos apelar para que se use o bom senso, afastando os impulsos ideológicos e eleitoreiros que asseguram vitórias instantâneas e condenam as gerações do
futuro.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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