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Investir no planeta
Último relatório do IPCC indica que estabilizar o clima pode custar até 3% do PIB mundial em 2030, mas com retorno certo
O TERCEIRO e último volume do novo relatório
de avaliação do Painel
Intergovernamental
sobre Mudança Climática
(IPCC, órgão criado pela ONU
em 1987), apresentado sexta-feira em Bancoc, confirma a mensagem principal das súmulas já
divulgadas neste ano: o aquecimento global é uma realidade, e o
mundo só tem a ganhar com medidas urgentes para contê-lo.
Nos dois sumários anteriores,
o IPCC se debruçou sobre a base
científica da mudança climática
e sobre seus impactos. O relatório agora anunciado focalizou a
chamada "mitigação". No jargão
do setor, providências para reduzir as emissões de gases do efeito
estufa, como o dióxido de carbono (CO2), que aprisionam radiação na atmosfera, aquecendo-a.
O cenário mais otimista desenhado pelo IPCC indica a necessidade de estabilizar a concentração de CO2 em torno de 450
partes por milhão (ppm). Tal valor corresponde a aproximadamente o dobro da concentração
no período pré-industrial. Se
não for ultrapassado, estima-se
que o aumento de temperatura
até 2100 ficará na casa de 2C,
considerado menos desastroso.
Para tanto, as emissões atuais
teriam de ser cortadas em pelo
menos 50% (os gases emitidos
hoje permanecem décadas no
sistema atmosférico). Não é meta que se possa atingir sem um
grande esforço, e conjunto.
Evidentemente, isso tem um
custo. O novo relatório do IPCC
indica que ele ficaria numa faixa
inferior a 3% do PIB mundial até
2030. A cifra está próxima do investimento de 1% do PIB projetado na "Revisão Stern", célebre
estudo de 2006 encomendado
pelo governo britânico a Nicholas Stern, ex-economista-chefe
do Banco Mundial.
Stern, no entanto, calculou
também o custo da inação. Se
nada fosse feito para conter o
crescimento das emissões (que
já subiram 70% de 1970 a 2004),
o produto mundial poderia ser
reduzido em até 20%, neste século. Encarado desse ângulo, o
que alguns entendem como custo deve ser definido como investimento, condição de possibilidade do crescimento.
O documento do IPCC, por seu
turno, põe ênfase nas oportunidades econômicas implícitas nos
esforços de mitigação. Aqui, países em desenvolvimento como o
Brasil contam com boas perspectivas. Segundo o painel, 65%
do potencial de redução de emissões com baixo custo se encontra em países tropicais, metade
disso ganhos alcançáveis com redução de desmatamento.
Para realizar tal potencial,
contudo, o Brasil e aliados como
a China precisam rever a objeção
a comprometer-se com metas de
redução de emissões. Não resta
dúvida de que países ricos foram
e são os maiores responsáveis
pelo aquecimento, mas tampouco se pode negar que o combate a
seus efeitos hoje depende, mais e
mais, da participação de todos.
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