São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Investir no planeta

Último relatório do IPCC indica que estabilizar o clima pode custar até 3% do PIB mundial em 2030, mas com retorno certo

O TERCEIRO e último volume do novo relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, órgão criado pela ONU em 1987), apresentado sexta-feira em Bancoc, confirma a mensagem principal das súmulas já divulgadas neste ano: o aquecimento global é uma realidade, e o mundo só tem a ganhar com medidas urgentes para contê-lo.
Nos dois sumários anteriores, o IPCC se debruçou sobre a base científica da mudança climática e sobre seus impactos. O relatório agora anunciado focalizou a chamada "mitigação". No jargão do setor, providências para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), que aprisionam radiação na atmosfera, aquecendo-a.
O cenário mais otimista desenhado pelo IPCC indica a necessidade de estabilizar a concentração de CO2 em torno de 450 partes por milhão (ppm). Tal valor corresponde a aproximadamente o dobro da concentração no período pré-industrial. Se não for ultrapassado, estima-se que o aumento de temperatura até 2100 ficará na casa de 2C, considerado menos desastroso.
Para tanto, as emissões atuais teriam de ser cortadas em pelo menos 50% (os gases emitidos hoje permanecem décadas no sistema atmosférico). Não é meta que se possa atingir sem um grande esforço, e conjunto.
Evidentemente, isso tem um custo. O novo relatório do IPCC indica que ele ficaria numa faixa inferior a 3% do PIB mundial até 2030. A cifra está próxima do investimento de 1% do PIB projetado na "Revisão Stern", célebre estudo de 2006 encomendado pelo governo britânico a Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial.
Stern, no entanto, calculou também o custo da inação. Se nada fosse feito para conter o crescimento das emissões (que já subiram 70% de 1970 a 2004), o produto mundial poderia ser reduzido em até 20%, neste século. Encarado desse ângulo, o que alguns entendem como custo deve ser definido como investimento, condição de possibilidade do crescimento.
O documento do IPCC, por seu turno, põe ênfase nas oportunidades econômicas implícitas nos esforços de mitigação. Aqui, países em desenvolvimento como o Brasil contam com boas perspectivas. Segundo o painel, 65% do potencial de redução de emissões com baixo custo se encontra em países tropicais, metade disso ganhos alcançáveis com redução de desmatamento.
Para realizar tal potencial, contudo, o Brasil e aliados como a China precisam rever a objeção a comprometer-se com metas de redução de emissões. Não resta dúvida de que países ricos foram e são os maiores responsáveis pelo aquecimento, mas tampouco se pode negar que o combate a seus efeitos hoje depende, mais e mais, da participação de todos.


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