|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Salto à frente do STF
Ao garantir direitos de casais e famílias de pessoas do mesmo sexo, Supremo põe a lei brasileira em compasso com novos anseios sociais
Em decisão justamente qualificada como histórica, o Supremo
Tribunal Federal (STF) estabeleceu que casais homossexuais formam uma família e possuem, portanto, os mesmo direitos de casais
de pessoas de sexos diferentes.
Os ministros do STF foram unânimes ao decidir que o princípio
da igualdade previsto na Constituição Federal impede o Estado
brasileiro de tratar diferentemente
seus cidadãos em razão de preferências sexuais.
Com o reconhecimento, fica assegurada a transmissão de herança entre parceiros do mesmo sexo,
assim como o direito a pensões,
aposentadorias, planos de saúde
e outros direitos previstos para os
casais que vivem em regime de
união estável. Também fica facilitada a adoção de crianças por casais homossexuais.
Além dos efeitos práticos da
medida, ela precisa ser celebrada
por seu impacto simbólico. Ao reconhecer que o Estado deve proteger, sem discriminação, as escolhas privadas dos cidadãos, o Supremo dá contribuição decisiva
para que o Brasil se transforme em
um país livre de preconceitos.
Um argumento levantado por
grupos conservadores e religiosos
afirma que a Constituição menciona apenas a união de homem e
mulher e que tal provisão só poderia ser modificada pelo Congresso,
não pelo Judiciário.
O fato de a Carta omitir a união
homossexual não impede seu reconhecimento, entendeu o STF.
Se impedisse, haveria contradição
com um objetivo fundamental da
lei maior, consagrado logo no artigo 3º: "Promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".
Diferentemente de outros países de maioria católica (como Espanha, Portugal ou Argentina),
cujos Parlamentos já haviam superado a restrição de direitos a homossexuais, o sistema político
brasileiro -e não apenas o Legislativo- é ainda muito permeável a
argumentos religiosos.
Nada indica que o Congresso
estivesse disposto a contrariar essa poderosa corrente de opinião e
aprovar alguma legislação com
avanços significativos sobre o tema. A decisão do STF é histórica,
portanto e mais uma vez, por reconhecer e reafirmar a laicidade do
Estado brasileiro.
O Supremo, dessa forma, adiantou-se na defesa de direitos individuais que parcelas crescentes da
opinião pública almejavam ver reconhecidos, diante da omissão do
Congresso. Uma democracia, para
ser completa, precisa ter mecanismos como esse para impedir que
grupos sociais, mesmo que majoritários, impeçam a garantia de direitos fundamentais de minorias.
Próximo Texto: Editoriais: O peso da especulação
Índice | Comunicar Erros
|