São Paulo, sábado, 07 de maio de 2011

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Editoriais

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O peso da especulação

Se alguém ainda duvidava de que os preços das commodities embutem um componente especulativo, as sensíveis quedas de preços ocorridas nesta semana -sem grande novidade na dinâmica da economia global- oferecem forte evidência em contrário.
O preço do barril do petróleo caiu 13%, para US$ 98, revertendo em menos de uma semana quase toda a alta acumulada desde que se intensificou a tensão no Oriente Médio, em fevereiro. Tombos mais espetaculares ocorreram com matérias-primas como a prata (menos 27%), e mesmo produtos agrícolas tiveram perdas importantes.
Além da maior demanda real, oriunda principalmente de países emergentes, nos últimos anos as matérias-primas atraíram um volume crescente de investimentos de natureza financeira. Estima-se que em março houvesse US$ 412 bilhões em investimentos no setor, aumento de quase 50% em relação ao mesmo período de 2010.
Não é surpresa, assim, que os preços reflitam cada vez mais o que ocorre nas mesas de operação de bancos e fundos de investimento, cujas opiniões e apostas podem mudar em minutos.
Outra fonte de volatilidade é a ligação dos preços das matérias-primas com o valor do dólar. Como a maior parte delas é cotada e negociada em dólar, quando há uma persistente tendência de desvalorização da moeda americana os preços em dólares sobem.
Nos últimos meses o banco central americano (Fed) aumentou brutalmente a moeda em circulação, desvalorizou o dólar e, assim, elevou preços das matérias-primas. Tal política gera críticas no restante do mundo, pois dissemina pressões inflacionárias.
Uma possível razão para a queda desta semana é a simples reversão desse movimento especulativo, que pode ser apenas temporária. Parece haver também alguma insegurança com a manutenção do ritmo de crescimento global nos próximos meses.
Seja como for, o fato é que oscilações grandes em intervalos curtos de tempo mostram que pouco se sabe a respeito da demanda final de tais produtos.
Para o Brasil, a queda de preços da semana traz boas notícias. O índice de commodities calculado pelo Banco Central já havia caído 1,64% em abril e, neste mês, pode voltar ao patamar do início do ano, o que alivia a pressão inflacionária de curto prazo.
Já era esperada forte queda na variação mensal do IPCA nos próximos dois ou três meses, movimento que agora pode ser acentuado. Com isso, reduz-se o risco de rompimento do teto da meta de inflação neste ano, de 6,5%.


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