São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

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BODE EXPIATÓRIO

George Tenet, o diretor demissionário da CIA (Agência Central de Inteligência, o serviço secreto norte-americano), assegurou que está deixando o cargo por razões pessoais, pelo bem-estar de sua família, "nada mais, nada menos". Já o presidente George W. Bush afirmou que Tenet fez "um trabalho soberbo" e que sentia muito que o chefe da espionagem norte-americana estivesse se afastando. É claro que ninguém acreditou em nenhuma palavra.
Foram vários os erros cometidos pela agência durante a gestão de Tenet, e pelo menos dois deles podem ser qualificados como graves. A CIA não conseguiu antecipar-se aos ataques do 11 de Setembro, apesar dos inúmeros indícios de que algo excepcional estava para acontecer. Além disso, o próprio Tenet garantiu a Bush que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa no Iraque. Acrescentem-se a esse histórico já pouco abonador duas circunstâncias: a forte pressão que a Casa Branca vem sofrendo por conta de falhas em sua política externa e a aproximação das eleições presidenciais, com os índices de popularidade de Bush em queda. Temos, assim, a receita para produzir um bode expiatório.
Bush tinha dois candidatos ao sacrifício: Tenet e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que vem sendo responsabilizado pelo escândalo dos maus-tratos infligidos a iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. Escolheu Tenet, que, embora tenha se tornado um interlocutor bastante próximo, representaria menor desgaste político. Na verdade, Tenet fora nomeado por Bill Clinton na administração anterior.
Também pode ter pesado contra Tenet o virtual consenso que se vai formando entre parlamentares de que a estrutura dos serviços de inteligência dos EUA precisa de reformas, o que justifica e exige uma troca de comando. As propostas são muitas e ainda estão em discussão, mas o próprio histórico de falhas atesta, de fato, a necessidade de mudanças.



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