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BODE EXPIATÓRIO
George Tenet, o diretor demissionário da CIA (Agência
Central de Inteligência, o serviço secreto norte-americano), assegurou
que está deixando o cargo por razões
pessoais, pelo bem-estar de sua família, "nada mais, nada menos". Já o
presidente George W. Bush afirmou
que Tenet fez "um trabalho soberbo"
e que sentia muito que o chefe da espionagem norte-americana estivesse
se afastando. É claro que ninguém
acreditou em nenhuma palavra.
Foram vários os erros cometidos
pela agência durante a gestão de Tenet, e pelo menos dois deles podem
ser qualificados como graves. A CIA
não conseguiu antecipar-se aos ataques do 11 de Setembro, apesar dos
inúmeros indícios de que algo excepcional estava para acontecer. Além
disso, o próprio Tenet garantiu a
Bush que Saddam Hussein possuía
armas de destruição em massa no
Iraque. Acrescentem-se a esse histórico já pouco abonador duas circunstâncias: a forte pressão que a Casa
Branca vem sofrendo por conta de
falhas em sua política externa e a
aproximação das eleições presidenciais, com os índices de popularidade de Bush em queda. Temos, assim,
a receita para produzir um bode expiatório.
Bush tinha dois candidatos ao sacrifício: Tenet e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que vem sendo responsabilizado pelo escândalo
dos maus-tratos infligidos a iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em
Bagdá. Escolheu Tenet, que, embora
tenha se tornado um interlocutor
bastante próximo, representaria menor desgaste político. Na verdade,
Tenet fora nomeado por Bill Clinton
na administração anterior.
Também pode ter pesado contra
Tenet o virtual consenso que se vai
formando entre parlamentares de
que a estrutura dos serviços de inteligência dos EUA precisa de reformas,
o que justifica e exige uma troca de
comando. As propostas são muitas e
ainda estão em discussão, mas o
próprio histórico de falhas atesta, de
fato, a necessidade de mudanças.
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