São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Lula, marquetagem e história

SÃO PAULO - O país deve conhecer hoje nova marquetagem de Lula da Silva, o Farmácia Popular. O programa é uma bobagem marqueteira plantada pelo ministro da Propaganda, Duda Mendonça, que a trouxe da marquetice malufista.
Se funcionar, o Farmácia Popular será ainda pior que seu fracasso. Contradiz a lógica do sistema de universalização e gratuidade da saúde. Cria custos adicionais. Deve desvirtuar laboratórios públicos. Cria mais farmácias, já em excesso. É tão tolo como o Fome Zero (que bagunçou a assistência social) ou como o Primeiro Emprego (que é ineficaz ou vai subsidiar empresas que queiram demitir gente mais velha).
O petismo-lulismo não tem idéia dos problemas estruturais do país, de como é difícil mudar políticas públicas, modificar a distribuição dos grandes agregados da renda.
Lula nem arranha temas como a desigualdade na distribuição de poder e renda, a dívida pública, os gastos públicos apropriados pelos mais ricos (dos juros a educação, saúde e Previdência).
FHC fez imensa dívida a fim de custear a modernização conservadora da economia. Para ter alguma paz sociopolítica, aumentou (meio obrigado) a assistência social, mas a desigualdade permaneceu. O gasto com juros em relação ao gasto social subiu 50% em seu governo. Lula segue na mesma toada.
O grande feito de Lula é continuar a política econômica que desde 1988 toma conta do país e chega agora ao paroxismo (que se imaginava ter sido FHC). A tão falada redução do déficit externo é quase só resultado de câmbio desvalorizado (desde 1999) e significa voltar a indicadores da época de Delfim (1983/85).
Os pobres pagam relativamente mais impostos. Leis tributárias e trabalhistas retrógradas arrebentam o emprego. Os ricos se apropriam ainda mais dos fundos sociais, pois a dívida cresce, vitaminada pelo Banco Central inimputável.
Mudanças, só cosméticas. O lulismo-petismo apenas passa batom na sua miséria intelectual e política.



Texto Anterior: Editoriais: BODE EXPIATÓRIO

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Dirceusistas e paloccistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.