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O "MENSALÃO"
São estarrecedoras as declarações do presidente do PTB,
Roberto Jefferson, em entrevista publicada ontem por esta Folha. O homem a quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que daria um
cheque em branco veio a público para aprofundar e ampliar as proporções da crise política, acusando o PT
de prover uma mesada de R$ 30 mil a
políticos do PP e do PL, a título de assegurar apoio no Legislativo.
De acordo com Jefferson, o "mensalão", como ele se referiu à compra
de parlamentares, era distribuído pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares,
nome que tem rondado com inquietante assiduidade o noticiário de casos nebulosos na seara petista. A
prática teria vigorado até o começo
deste ano, quando o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva -sempre na versão do entrevistado- veio a tomar
conhecimento do caso por intermédio do petebista.
Jefferson, que se encontra no centro do escândalo de corrupção nos
Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), explicou a lógica
do "mensalão" afirmando que é
"mais barato pagar o exército mercenário do que dividir poder".
Parece claro que o presidente do
PTB, vendo-se na iminência de ser
abandonado no episódio das estatais, decidiu bombardear o PT e outros aliados. "Percebo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido",
disse na entrevista, referindo-se à
"bomba" armada pelas revelações
sobre a intermediação de negócios
nas duas empresas federais.
Se, por um lado, o famigerado histórico de Jefferson exige cautela em
relação ao que diz, por outro, sua familiaridade com os bastidores do
poder o torna um profundo conhecedor de situações como essas a que
se referiu. Não basta, portanto, como fez o PT, manifestar "surpresa e
indignação" e considerar que o caso
não tem "fundamento na realidade".
Diante da gravidade do que foi dito,
o mínimo que a sociedade pode esperar é uma investigação profunda.
Mesmo que o presidente tenha chorado e manifestado indignação ao
saber da compra de votos -logo a
seguir supostamente suspensa-,
haveria outras atitudes a tomar.
Segundo disse ontem o ministro
Aldo Rebelo, da Coordenação Política, o presidente pediu informações
sobre o assunto depois do relato de
Jefferson. Soube então que o caso já
havia sido levantado, em setembro,
pelo deputado Miro Teixeira (PT-RJ),
gerando uma sindicância na Câmara. Como Teixeira, porém, recuou da
denúncia, nada foi apurado. É preciso, portanto, reabrir o inquérito. O
país precisa de explicações.
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