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CARLOS HEITOR CONY
Chuteiras e bandeiras
RIO DE JANEIRO - Ruas e praças
de todo o Brasil estão vestidas de
verde e amarelo. Faixas, símbolos e
bandeiras nacionais dão a impressão de uma festa cívica comemorada pelo povo, com entusiasmo; mais
do que entusiasmo, com devoção. A
pátria ganha contorno de sacrário.
Antigamente, o povo se enfeitava
e enfeitava ruas e casas para o Carnaval. Hoje são as prefeituras que
fazem a decoração de cima para baixo, colocam alguns pandeiros combalidos nos postes das ruas principais e acreditam que estão incrementando a outrora grande festa
popular.
A Copa não precisa de governos
federal, estadual ou municipal. Ela
mexe com a persona, a própria alma
nacional. Já foi dito que a seleção é a
pátria de chuteiras. Não é bem isso.
As chuteiras quase não importam.
Importa o "Brasil", é ele quem ganha ou perde -o resto é silêncio.
Passo pelas ruas em festa e vejo
que são raras as fotos dos jogadores,
mesmo daqueles que são mais queridos e badalados.
Cada um tem os seus ídolos quando se trata propriamente de futebol, mas, durante uma Copa, valor
mais alto se levanta.
Não é Ronaldinho Gaúcho, nem o
outro Ronaldo, nem Kaká nem Cafu nem Parreira que contam e cantarão vitória -se ela vier mesmo.
O que contará, para o bem ou para o mal, é a pátria, a família amplificada segundo Ruy Barbosa, sendo
a família o indivíduo simplificado.
Lembro a Copa de 70, num dos
piores momentos do regime militar
que sofríamos. Houve até uma campanha para que o povo torcesse
contra o Brasil, para não encher o
gás da ditadura.
Não adiantou. As mesmas bandeiras, as mesmas faixas verde-amarelas que o governo espalhava
pelo país o ano todo, para incrementar o civismo dos tempos
totalitários, enrolaram o povo
na grande festa do tricampeonato.
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