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CLÓVIS ROSSI
A corrupção e a agenda
KÜHLUNGSBORN - Houve um
tempo, um longo tempo, em que o
Brasil ficava fora da discussão internacional porque sua situação
econômica interna era incompreensível no mundo civilizado.
Refiro-me à elevada inflação, que
atravessou décadas machucando os
brasileiros. Para o mundo civilizado, era incompreensível. Para o
Brasil, era o assunto hegemônico.
Depois que a inflação foi posta
sob controle, e mais ainda agora,
que está abaixo da de alguns países
ricos, a agenda brasileira começou a
ficar parecida com a do mundo.
Até que a corrupção foi se transformando no assunto predominante no noticiário político. Corrupção
não é, ao contrário da inflação elevada, um tema incompreensível para o resto do mundo. Bem ao contrário: todos a entendem.
A grande diferença está na intensidade com que surge na agenda
brasileira e na quantidade de agentes políticos que é a todo instante
alcançada por denúncias ou, com
grande freqüência, por fatos que
não podem ser desmentidos.
O resultado é o que se vê agora. O
mundo está debatendo os assuntos
que são a pauta básica do G8, o presidente brasileiro entra na reunião
amanhã, como convidado especial,
ao lado de quatro outros presidentes de países emergentes, mas o debate político brasileiro passa ao largo disso tudo.
Fala-se muito pouco, por exemplo, de aquecimento global, o tema
principal da cúpula do G8. Como o
próprio nome indica, trata-se de
um fenômeno de alcance planetário. Como o Brasil pertence ao planeta, deveria ser um tema seu também. Mas está meio soterrado por
Vavá, Zuleido, Morelli e cia.
Não que devêssemos desterrar
essa gente da agenda pública. Ao
contrário: deveríamos ficar espertos e constatar que a corrupção, do
tamanho que foi ficando, nos afasta
da agenda global. Um prejuízo imaterial, mas não desprezível.
crossi@uol.com.br
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