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RUY CASTRO
Gato com estrela
RIO DE JANEIRO - Há meses,
neste espaço ("Gatos que brilham",
15/12/2007), contei a história de
meus amigos Cida e Bill, que, indo
passar uns tempos numa aldeia italiana, perto de Milão, com seu gato
Theo, tiveram de fazer uma dura
opção na hora de viajar.
Como só tinham duas passagens
na classe executiva, e não se conformavam em condenar Theo ao bagageiro pelas 14 horas de vôo, o magnânimo Bill marchou para a econômica, cedendo seu lugar ao gatinho.
Você sabe o que representa a classe
econômica nos vôos internacionais
-algo assim como a fila do INPS, a
fronteira com o Paraguai ou os estádios da 2ª divisão. Enquanto isso,
Theo foi um sucesso na executiva:
ia gente do avião inteiro visitá-lo
em sua confortabilíssima poltrona.
Bem, Cida e Bill instalaram-se na
aldeia à beira do lago Como para
uma temporada de meio ano, tempo em que Cida, bisneta de romanos, aplicou-se em buscar a cidadania italiana a que tem direito. Ela e o
marido trabalham com turismo,
donde um passaporte da União Européia viria de colher para suas várias idas anuais ao continente. Daí,
Cida entrou com os papéis e aproveitou para pedir também um passaporte europeu para Theo.
Ao contrário da primeira-dama,
d. Marisa Letícia Lula da Silva, que
solicitou e ganhou em dois tempos
a cidadania italiana para si e seus filhos -tinha pressa em assegurar
"um futuro melhor para sua família", segundo disse-, Cida continua
sujeita ao calvário burocrático comum aos que pedem a dita cidadania. E olhe que recita Dante, Petrarca e Leopardi no café da manhã.
Cida ainda não tem idéia de
quando receberá a cidadania. Em
compensação, Theo, seu legítimo
vira-lata carioca, já está de posse de
um lindo passaporte verde, com direito a foto carimbada, as vacinas
em dia e livre trânsito pelas Europas. Esse gato tem estrela.
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