São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Oposição sem rumo


Calendário da sucessão presidencial avança sem que PSDB e DEM definam diferenças em relação ao projeto governista

OS ELEVADOS índices de popularidade obtidos pelo governo Lula já seriam suficientes, sem dúvida, para explicar as dificuldades da oposição. Todavia, na medida em que se acelera a disputa sucessória, vai ficando mais evidente a sua falta de rumos, de propostas e motivações.
Favorito nas pesquisas de intenção de voto, o governador José Serra compartilha com seu rival peessedebista, Aécio Neves, uma notável hesitação quanto às mensagens que caberia endereçar ao eleitorado em 2010. Excetuadas as vagas menções a uma superior capacidade gerencial, invocadas sem sucesso quando o tucano Geraldo Alckmin disputou com Lula a última eleição à Presidência da República, é como se o PSDB não soubesse como se diferenciar do atual governo, nem sequer se arriscasse a representar os setores de opinião que divergem do Planalto.
Talvez, nesta última frase, seja possível encontrar parte da explicação para as carências do discurso oposicionista. É que o governo Lula se caracteriza, precisamente, pela ambiguidade e pela contemporização. Fossem mais claras e cortantes as suas decisões, haveria espaço para que partidos como o PSDB e o DEM fizessem valer sua discordância em questões concretas.
Da política econômica ao tema do meio ambiente, do ensino público ao comércio exterior, o governo Lula tem sido capaz de agregar, em torno do prestígio pessoal do presidente -e dos cargos que distribui-, os mais contraditórios interesses.
A acomodação fisiológica de uma extensa base partidária se soma, ademais, a uma orientação que acompanha o governo do presidente Lula desde o início: a de buscar o centro do espectro ideológico, abandonando uma série de bandeiras -como o combate à "ortodoxia econômica" e às oligarquias regionais- que compunham parcela significativa de sua identidade.
Temas como corrupção e fisiologismo, por sua vez, não encontram nos partidos oposicionistas intérpretes em condições de galvanizar os protestos. Deficiências crônicas em áreas como educação e saúde podem ser registradas, além disso, tanto no plano federal quanto nos Estados em que tucanos e políticos do DEM exercem o poder.
Sem dúvida, o foco das insatisfações da opinião pública se concentra, hoje em dia, mais no Poder Legislativo do que no Executivo; é a atividade política, no seu sentido próprio, que se encontra esvaziada, num quadro que se marca por um misto de conformismo e desalento.
Ainda que limitado, o papel das lideranças individuais tende a encontrar, em situações como essa, um campo propício -podendo lançar ao debate democrático novas agendas e pautas de atuação. Parece entretanto faltar aos possíveis candidatos no pleito de 2010 essa capacidade de inovação política.


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