São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
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FHC E A AGRURA SOCIAL

Os arranques e as freadas da economia nos anos do Real foram normalmente o motivo dos altos e baixos da popularidade de Fernando Henrique Cardoso, embora conturbações de outra natureza tenham contribuído para baixá-la um pouco mais em certos momentos. Não é de espantar, pois, que a avaliação do presidente seja hoje ruim, depois de quase dois anos de deterioração socioeconômica. Mas a mais recente pesquisa Datafolha mostra indícios de que mudou o registro social da insatisfação.
FHC faz um governo ótimo ou bom para só 10% dos paulistanos de renda inferior a dez salários mínimos; entre os que auferem 20 salários mínimos ou mais, a taxa sobe para 23%. Aumentou, em São Paulo, o desvio entre a opinião dos setores de renda mais alta e mais baixa a respeito do desempenho presidencial, diferença que, nas pesquisas nacionais, foi até hoje sempre insignificante.
Pode-se falar em indícios apenas, pois a pesquisa foi restrita à cidade de São Paulo. Mas os dados devem refletir fenômeno comum às regiões metropolitanas. Há menos emprego; a renda média das pessoas ocupadas caiu desde 97. Segundo o IBGE, ela é agora quase 5% inferior à de 98.
O desemprego decerto afeta diversos setores sociais. Mas, embora o fim da inflação amaine a deterioração do nível de vida das camadas de renda mais baixa, que comumente são as que mais perdem em períodos recessivos, é entre essas famílias que a falta de um salário ou de um emprego têm efeito mais adverso. Tal crise pode lançá-las para baixo da linha da pobreza ou da indigência.
Com a recuperação da economia, esperada já para o segundo semestre, haveria certa redução da agrura social, talvez uma melhora do prestígio de FHC. A incerteza se deve à expectativa de que o nível de emprego deverá crescer mais lentamente que o da atividade econômica. Pior, é provável que a reforma da estrutura produtiva do país tenha elevado o nível da taxa estrutural de desemprego no Brasil. Como ademais a convalescença da economia ainda será algo longa, com expectativa de crescimento medíocre nos próximos dois anos, é possível que uma insatisfação nada residual continue a corroer a popularidade do presidente.


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