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FHC E A AGRURA SOCIAL
Os arranques e as freadas da economia nos anos do Real foram normalmente o motivo dos altos e baixos da
popularidade de Fernando Henrique
Cardoso, embora conturbações de
outra natureza tenham contribuído
para baixá-la um pouco mais em certos momentos. Não é de espantar,
pois, que a avaliação do presidente
seja hoje ruim, depois de quase dois
anos de deterioração socioeconômica. Mas a mais recente pesquisa Datafolha mostra indícios de que mudou o registro social da insatisfação.
FHC faz um governo ótimo ou bom
para só 10% dos paulistanos de renda
inferior a dez salários mínimos; entre os que auferem 20 salários mínimos ou mais, a taxa sobe para 23%.
Aumentou, em São Paulo, o desvio
entre a opinião dos setores de renda
mais alta e mais baixa a respeito do
desempenho presidencial, diferença
que, nas pesquisas nacionais, foi até
hoje sempre insignificante.
Pode-se falar em indícios apenas,
pois a pesquisa foi restrita à cidade
de São Paulo. Mas os dados devem
refletir fenômeno comum às regiões
metropolitanas. Há menos emprego;
a renda média das pessoas ocupadas
caiu desde 97. Segundo o IBGE, ela é
agora quase 5% inferior à de 98.
O desemprego decerto afeta diversos setores sociais. Mas, embora o
fim da inflação amaine a deterioração do nível de vida das camadas de
renda mais baixa, que comumente
são as que mais perdem em períodos
recessivos, é entre essas famílias que
a falta de um salário ou de um emprego têm efeito mais adverso. Tal crise
pode lançá-las para baixo da linha da
pobreza ou da indigência.
Com a recuperação da economia,
esperada já para o segundo semestre,
haveria certa redução da agrura social, talvez uma melhora do prestígio
de FHC. A incerteza se deve à expectativa de que o nível de emprego deverá crescer mais lentamente que o
da atividade econômica. Pior, é provável que a reforma da estrutura produtiva do país tenha elevado o nível
da taxa estrutural de desemprego no
Brasil. Como ademais a convalescença da economia ainda será algo longa, com expectativa de crescimento
medíocre nos próximos dois anos, é
possível que uma insatisfação nada
residual continue a corroer a popularidade do presidente.
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