São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
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MÃES QUE MORREM À TOA

Aumentou o número de mulheres mortas em decorrência de problemas na gravidez na cidade de São Paulo. A extensão do problema pode ser aferida pelo fato de que a mortalidade paulistana é dez vezes superior à registrada na União Européia. Mas é provável que não exista nenhum indicador social favorável ao Brasil -ou mesmo a São Paulo- quando confrontado com aqueles de países ricos. Não é motivo para consolo. As mortes devido a complicações na gestação poderiam ser reduzidas por meio de providências viáveis mesmo em meio à pobreza brasileira.
Está se falando precisamente de medicina preventiva elementar, ou da falta dela. Exemplo revoltante: a pressão alta na gravidez é a principal causa da mortalidade materna (cerca de 15% dos casos), mas a verificação da pressão arterial durante os exames pré-natais não é procedimento usual em muitos dos hospitais.
Pior, dados do Ministério da Saúde apontam que as gestantes brasileiras fazem em média menos de dois exames pré-natais, contra uma recomendação mínima de três e um ideal de seis consultas. Outra estatística, desta vez da Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar, mostra que, no ano de 96, 32% das mulheres grávidas não fizeram nenhum pré-natal, índice que sobe para alarmantes 43% entre as mulheres mais pobres.
Soma-se a isso outro problema. Estima-se que cerca de 20% das gestantes paulistanas perambulem por dois ou até mais hospitais antes de encontrar um leito para dar à luz. Não há, oficialmente, falta de vagas de maternidade em São Paulo, mas sim distribuição falha, além de descaso de hospitais ou despreparo de profissionais de saúde no atendimento às gestantes, pobres sobretudo.
Especialistas afirmam que a diminuição dessa tragédia depende menos de investimentos do que de atendimento de melhor qualidade. Bons exames, e suficientes, decerto não substituem saneamento, educação e comida decentes, mas já podem fazer muito pela saúde feminina.


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