São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
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O PAÍS ESPERA

Já se vão mais de cinco meses de seu segundo mandato, mas o presidente ainda não foi capaz de elaborar uma "agenda positiva" para o país, expressão que, de tão usada nos círculos governistas, já se torna um clichê. Registre-se, pois, que apenas os escândalos e as revelações das CPIs deste ano seriam suficientes para sugerir uma agenda importante de transformação institucional.
Providências decerto foram tomadas, mas a conta-gotas, como aquelas relativas a normas do BC, por exemplo. Há ainda muito a fazer, e não apenas no sistema financeiro. Demandam reformas ou mesmo medidas pontuais o sistema tributário e a Justiça; falta vigor no encaminhamento de projetos como o da lei de responsabilidade fiscal e a revisão da lei dos partidos, pomposamente chamada de reforma política.
São temas, todos, que contam com o apoio retórico do presidente. São assuntos que, estritamente, diriam respeito apenas ao Congresso. Sabe-se, porém, que este é majoritariamente governista; que essa coalizão, seus partidos e as facções destes demonstram graus variados e em geral conflitantes de compromisso com cada uma dessas questões.
Tomadas, porém, precocemente pela fúria sucessória, as principais forças políticas não se mostram capazes de agir pela consolidação de uma ampla agenda de mudanças. E o presidente, por sua vez, acossado por denúncias, se perde na negociação cotidiana e tópica que lhe é imposta pelos partidos. Se houvesse governo e base política confiáveis, o país poderia estar agora consolidando um grande ciclo de reformas.
Mas, sem acordo político, sem liderança firme, a guerrilha palaciana predomina e a inércia torna-se cada vez mais rotineira. O país, enquanto isso, espera, com instituições precárias, com seu ajuste econômico instável, sua perspectiva de crescimento incerta -todos assuntos pendentes, a depender de um duvidoso compromisso da elite política com a busca de solução dos problemas nacionais.


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