São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Declaração de guerra

BUENOS AIRES - Se os mercados não engolem Luiz Inácio Lula da Silva nem que ele seja proclamado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana, tremo de pavor só de pensar na hipótese de as pesquisas indicarem, doravante, um segundo turno entre Lula e Ciro Gomes.
Antes que venham os patrulheiros, aviso: não tenho nada contra Lula, Ciro, José Serra ou Anthony Garotinho. Escolher um deles é direito inalienável e exclusivo do eleitor, digam o que disserem os mercados.
Estou apenas apontando fatos prováveis. Um deles: se Ciro e Serra continuarem colados, cada um deles será tentado a bombardear o outro em vez de se preocupar com o líder em todas as pesquisas, que é Lula.
Afinal, com perdão pela obviedade, o importante, nesta fase, é passar para o segundo turno. Ganhar a eleição é o segundo tempo.
Se, de fato, os dois se trucidarem mutuamente, Lula será mais ou menos poupado e, portanto, terá mais facilidades para manter a liderança. Por extensão, os nervos dos mercados continuarão crispados.
O estrago que podem provocar, a partir daí, são imensos. No mínimo tornar-se-á mais difícil chegar ao fim do governo Fernando Henrique "com tranquilidade", ao contrário do que o presidente disse em Buenos Aires que acontecerá.
O diabo é que não há muita coisa a fazer. Há um punhado de gente pedindo clareza, transparência ou coisas parecidas aos candidatos (a todos, mas principalmente aos de oposição). É o tipo do pedido platônico, para defini-lo de alguma forma. O jogo nos mercados, pelo menos em sua maior parte, não se faz a partir de programas, plataformas, promessas, clarezas etc.
É feito baseado em percepções que podem ou não coincidir com a realidade. A percepção dos mercados é a de que Serra é o candidato-amigo. Os outros são, por definição, inimigos. Logo, dois "inimigos" juntos no segundo turno é dose para declaração de guerra. Azar nosso.



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