São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Ciro e Serra

BRASÍLIA - A crise econômica joga uma pitada de desconfiança na tese de que a eleição será fatalmente polarizada entre o apelo da oposição de esquerda e a força do governo.
O eleitorado que é contra o governo, mas não atravessa toda a avenida até Lula, pára no meio do caminho. Aí se encontra Ciro Gomes.
O espaço foi sonhado por Itamar Franco, que não teve suporte, ocupado por Roseana Sarney, que desistiu, e disputado por Anthony Garotinho, que não teve fôlego. A vez é de Ciro.
Estrategicamente, Ciro surrupiou de Serra a tese subliminar da "continuidade sem continuísmo". Ex-tucano e ex-ministro da Fazenda, defende a estabilidade e os tais fundamentos macroeconômicos. Como dissidente, critica tudo o mais à vontade, com o tom da mais pura oposição.
O alvo é o eleitorado feminino (zangado com o governo, mas rejeita Lula), o pequeno e médio empresário, o agricultor, o lojista, o funcionário. A oposição conservadora, contra o governo e contra o vermelho do PT.
Taticamente, Ciro é o típico caso de "quem rim por último ri melhor". Roseana gastou cedo seus cartuchos na TV. Lula só confirmou a dianteira, Serra cresceu o suficiente para garantir o apoio do PMDB, Garotinho teve seus 15 minutos de glória. Ciro, esperto, concentrou sua exposição antes da campanha oficial nas ruas (iniciada ontem), das entrevistas na TV e da propaganda eleitoral gratuita. Chega na fase decisiva com o gás de mais de cem minutos de aparição ao lado da super Patrícia Pilar.
Com Lula firme na liderança, a eleição já teve Serra contra Roseana e Serra contra Garotinho. Agora, é Serra contra Ciro. A dúvida é entre a consistência da candidatura Ciro e a capacidade de Serra de vencer o último obstáculo do primeiro turno.
Há dois fatores decisivos nessa gangorra: a situação econômica, incluindo os aumentos de gasolina, luz etc. e o desempenho pessoal de cada um -nos palanques e na telinha.
Ciro acusa a imprensa de fazer uma aposta errada na tese de Lula versus governo (leia-se Serra). Pagou para ver. As cartas estão na mesa.



Texto Anterior: Buenos Aires - Clóvis Rossi: Declaração de guerra
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Inimigo provisório
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.