São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Inovar para crescer
ROBERTO NICOLSKY
Mas o que é inovação tecnológica? Em contraste com as invenções revolucionárias, geradoras de produtos totalmente novos, a inovação pode-se dar pela simples melhoria incremental, em que avanços tecnológicos graduais agregam valor a produtos já existentes. Foi adotando essa estratégia que a Índia, por exemplo, acabou de se converter no maior exportador de medicamentos genéricos e o segundo de software, criando mais de 1 milhão de empregos diretos de alto valor. Agora que a indústria brasileira dá sinais de reaquecimento, temos uma oportunidade e um desafio pela frente: sustentabilidade. Só a inovação tecnológica incessante, incorporada à rotina das empresas e do sistema de educação, pode tornar sustentável esse processo. Estamos falando de uma nova mentalidade, de uma mudança que não é puramente econômica nem política -é cultural também. O Brasil do "jeitinho", do "povo criativo" precisa se transformar no Brasil da inovação tecnológica, sob pena de perdermos novamente a oportunidade de assegurar competitividade à nossa economia. Com o lançamento da nova política industrial, tecnológica e de comércio exterior, o governo federal deu um primeiro passo adiante nessa questão. Em manifestação recente através de um artigo na imprensa, os ministros Palocci, Furlan, José Dirceu e Eduardo Campos recuperaram um relatório do CNPq elaborado em 1968 que já dizia: "Entre as razões que impedem o desenvolvimento agressivo da pesquisa industrial no Brasil, figura o mal-entendido de que a pesquisa industrial deve ser realizada principalmente, ou mesmo exclusivamente, em instituições tecnológicas e laboratórios universitários, em vez de constituir atividade das próprias empresas industriais". Apesar desse diagnóstico tão claro, o país não aprendeu, na época, a lição de que a indústria é o "locus" da inovação e deixou de induzir o desenvolvimento tecnológico no setor produtivo. Mas, em seguida ao lançamento da nova política, o governo federal já tomou algumas medidas concretas para estimular a inovação tecnológica, como a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, o envio ao Congresso Nacional do novo texto do Projeto de Lei de Inovação e a criação, pelo BNDES, do Fundo Tecnológico (Funtec). Entretanto há muito mais por fazer. Para a criatividade dos brasileiros reverter em geração de emprego e renda para os brasileiros, é preciso mudar o tratamento dado à questão do desenvolvimento tecnológico, o que não significa insistir em velhos modelos. O que se propõe não é a volta da política industrial paternalista dos anos 70 nem as práticas neoliberais que liquidaram segmentos inteiros da indústria nacional nas décadas subseqüentes. O Brasil precisa pensar e agir estrategicamente na economia global -sem delírios de grandeza, mas com altivez-, aproveitando nossas vantagens comparativas, nossa criatividade e as oportunidades disponíveis nos mercados interno e internacional, através do fomento direto da geração de inovações tecnológicas no ambiente produtivo. No 3º Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec), programado para se realizar de hoje a 9 de julho, na Firjan, as pessoas e entidades engajadas nessa causa estarão discutindo proposições para ampliar a cultura da inovação tecnológica no país. Roberto Nicolsky, 65, físico, professor do Instituto de Física da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é diretor-geral da Protec (Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Gil da Costa Marques: Autoridade na universidade Índice |
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