|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Não autorizada
PARATY - Uma repórter me perguntou se eu pensava em escrever
minha autobiografia. Respondi que
nem pensar, que não confiava em
autobiografia de ninguém, nem na
minha. "Quem escreve sobre si
mesmo mente muito", expliquei.
Daí ela perguntou, brincando, se eu
não "escreveria uma autobiografia,
mesmo que não autorizada". A idéia
era intrigante pelo contra-senso.
Tive de rir.
Mas, nos últimos dias, temi que
me fizessem essa pergunta a sério.
A discussão sobre biografias "autorizadas" ou "não autorizadas" ocupou enorme espaço na imprensa e
as duas palavras ficaram quase mágicas, sem que as pessoas soubessem muito bem do que se tratava.
Pois, eis.
Uma "biografia não autorizada" é
aquela em que o biografado (ou
seus herdeiros) toma ou não conhecimento de que se está produzindo
um livro a seu respeito e se dispõe
ou não a colaborar com o biógrafo.
O livro é publicado, e o biografado
tem duas coisas a fazer: ou gosta do
que leu e telefona para o autor a fim
de cumprimentá-lo; ou não gosta e
mete-lhe um processo. Subentende-se que só leu o livro depois que
este saiu.
Já na "biografia autorizada", o
biógrafo e o biografado (ou seus
herdeiros) fazem um acordo de papel passado que os torna quase sócios. O biografado se dispõe a dar
todas as informações, abrir gavetas,
ceder fotos, emprestar documentos, enfim, colaborar ao máximo
com o biógrafo. Em troca, este concede ao biografado (ou aos advogados dele) o direito de ler o original
antes de este ir para a gráfica, com o
que o ilustre estará em condições
de cortar o que não lhe agradar. Dependendo da quantidade de cortes,
é como se o verdadeiro autor fosse o
biografado. E, no fundo, é.
Donde uma "biografia autorizada" faz tanto sentido quanto "uma
autobiografia não autorizada".
Quer dizer: nenhum.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Palocci é o Brasil Próximo Texto: Fernando Gabeira: Imagens do pântano Índice
|