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Quem paga a conta
Ao sugar lucro de estatais a fim de diminuir déficit fiscal, governo sacrifica investimentos, cruciais para crescimento maior
EMPRESAS estatais eram
válvula de ajuste recorrente do governo na época de inflação elevada. No
afã de inibir a marcha dos preços,
o Executivo adiava reajustes de
tarifas, ou os concedia em índices inferiores ao da alta inflacionária. O malabarismo podia evitar corrosão mais acentuada no
custo de vida em curto prazo,
mas dilapidava a capacidade de
investimento dessas empresas e,
assim, prejudicava a modernização da infraestrutura do país.
O fim da inflação alta, as privatizações e a instituição de regimes realistas de fixação de tarifas praticamente eliminaram essa prática no Brasil. Mas as estatais continuam prestando serviços indevidos ao ajuste das contas públicas, como mostrou ontem reportagem desta Folha.
A fim de custear a aceleração
das despesas com a máquina federal, o Planalto, nos 12 meses
terminados em maio, duplicou
os saques das suas empresas estatais. Como controlador dessas
companhias, o Tesouro pôde
elevar o volume dos lucros das
estatais que foi destinado ao
erário, sob a forma de dividendos. De cada R$ 100 poupados
pelo governo no chamado superávit primário entre junho de
2008 e maio de 2009, R$ 44 vieram das estatais.
Embora os tempos sejam outros, a escolha do Executivo tem
implicações semelhantes às decisões populistas do passado.
Quanto maior o saque governamental, menor a quantia de lucros a ser canalizada para novos
investimentos das estatais. O sacrifício das despesas em infraestrutura poderia ser neutralizado
caso o governo utilizasse o recurso extra obtido com os dividendos para ampliar seus próprios desembolsos em saneamento, habitação e transportes.
O que vai a galope, porém, são
gastos públicos que se transformam em consumo, e não em investimento. O desembolso federal com folha de pagamentos,
aposentadorias, pensões e outros benefícios cresceu 12% nos
primeiros cinco meses de 2009.
Como a arrecadação de impostos caiu 6%, o Planalto sugou
mais lucros das estatais na tentativa de evitar um rombo fiscal.
Além disso, o governo Lula
baixou pela segunda vez no ano a
sua meta de superávit primário
em 2009, de 2,5% para 1,85% do
PIB. Desse modo, o presidente
da República e a aspirante que
tirou do bolso do colete, a ministra Dilma Rousseff, puderam
reiterar sua disposição de ampliar ainda mais o comprometimento do erário com despesas
duradouras de consumo. Falam
em manter a nova rodada de aumentos prometida ao funcionalismo e a correção dos benefícios
do Bolsa Família.
Num país que já destina ao governo, a título de tributos, quase
40% do que produz, toda decisão
de aumento de gastos públicos
setoriais, por mais justa que seja,
continua sendo feita à custa do
contribuinte, da capacidade produtiva e das futuras gerações.
Nada de encontrar no próprio gigantismo da máquina estatal,
promovendo corte de gastos e
ganhos de eficiência, a margem
para os novos dispêndios.
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