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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dilma em versões
SÃO PAULO - O programa de governo entregue anteontem de manhã
por Dilma Rousseff à Justiça Eleitoral previa, entre tantas coisas, a taxação das grandes fortunas, a redução da jornada de trabalho de 44
para 40 horas semanais, o controle
social dos meios de comunicação, a
revogação da lei que torna propriedades invadidas por sem-terra indisponíveis para a reforma agrária.
No final da tarde, o PT voltou ao
TSE para trocar o documento original por um resumo bem mais light
do que sua candidata pretende fazer no poder. O que parecia "polêmico" sumiu. Em qual dos papéis
deve-se acreditar? No matutino ou
naquele registrado ao anoitecer?
Provavelmente, em nenhum deles.
José Serra, por exemplo, nem se
deu ao trabalho de disfarçar: mandou embrulhados ao TSE os dois
discursos em que se lançou candidato. Como quem diz: o programa
sou eu! E depois ironiza "Luís 14"...
Mas o que incomodou mesmo foi
o jogo de esconde de Dilma. A substituição de um programa mais "à
esquerda" por outro mais "concessivo" atenderia a conveniências da
campanha. Afinal, para que "épater le bourgeois" à toa?
O episódio, no entanto, tem aspectos que vão além do teatro eleitoral. Talvez seja o caso de ver aí um
ato falho da campanha petista: a
troca de uma peça por outra traz à
tona a figura da candidata enigmática, que ninguém sabe exatamente
o que fará no poder, ou cuja capacidade de liderança não se conhece.
No caso, o risco -se faz sentido
falar assim- reside menos no fantasma de um governo "radical",
que venha açular a luta de classes,
e, muito mais, na possibilidade real
da "sarneyzação" de Dilma.
A sombra de Lula, as pressões do
PT, a gula do PMDB, as demandas
sociais, a máquina sindical, a turma do dinheiro, enfim... O condomínio do poder que se reorganiza
em torno de Dilma é imenso e, à distância, pode lembrar o ambiente da
Nova República, quando o presidente estava muito aquém do pacto
político e social que deveria liderar.
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