São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

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Ministério dos desvios

Alfredo Nascimento deixa pasta dos Transportes quatro dias depois das denúncias de propina; obrigação de Dilma agora é moralizar o setor

Caiu o ministro Alfredo Nascimento, titular dos Transportes, pasta da cota do PR (Partido da República) no consórcio de legendas que apoiam o governo Dilma Rousseff. Com ele, quase toda a cúpula do controverso ministério foi afastada do poder, sob graves suspeitas de corrupção.
É a segunda baixa ministerial em seis meses de governo. Ambas motivadas por problemas de ordem ética. E, nos dois casos (de Antonio Palocci e de Alfredo Nascimento), são heranças de nomes e de esquemas legadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A situação de Nascimento começou a se complicar no final de semana, depois que a revista "Veja" trouxe à luz denúncias de cobrança de propinas de empreiteiras e de empresas de consultoria no âmbito dos Transportes.
A presidente ordenou o afastamento do diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, e de José Francisco das Neves, presidente da Valec (Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.), os dois braços operacionais do ministério. Também foram exonerados o chefe de gabinete do ministro e mais um assessor.
Com Nascimento já fragilizado, o jornal "O Globo" revelou ontem que empresa de seu filho registrou crescimento patrimonial de 86.500% em meros dois anos. Fundada em 2005 com capital social de R$ 60 mil, quando Gustavo Morais Pereira tinha 21 anos, a Forma Construções contava com mais de R$ 50 milhões já em 2007.
Ao menos em parte, esse crescimento escandaloso se deveu a repasses de dinheiro do ministério chefiado pelo progenitor. Como ocorre com muita frequência, o esquema que está sendo investigado pelo Ministério Público contava com uma empresa intermediária, a SC Transportes.
Doadora de peso da campanha do senador Nascimento, eleito pelo PR do Amazonas em 2006, essa empresa recebeu em 2007 R$ 3 milhões do ministério já gerido por ele, dos quais R$ 450 mil foram destinados à firma de seu filho. Tal prática se repetiu mais vezes, com cifras variadas.
Esse é só mais um caso. Pois é notório que os escândalos nos Transportes não são novos nem episódicos. O regime de descalabro impera ali há muito tempo.
O PR -que até 2006, quando se fundiu com o Prona, se chamava PL- locupletou-se na pasta desde o início do governo Lula, em 2003. Dilma agiu desta feita com maior rapidez, mas de pouco adiantará a troca da cúpula se não houver disposição do Planalto para escorraçar a cultura quadrilhesca que se encastelou no ministério.
Não é concebível que uma área da administração com tamanha importância estratégica para o desenvolvimento do país esteja sequestrada pelo que há de pior nos hábitos políticos brasileiros. Essa é a hora de a presidente estabelecer novos parâmetros de moralidade e conduta para a pasta.


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