São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

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Motores para 2007

Fatores, como o gasto público, que estimulam a atividade econômica em 2006 devem perder força no ano que vem

A ECONOMIA brasileira prosseguiu em expansão nos últimos meses, mas a um ritmo inferior ao do trimestre inicial do ano. É o que sugerem os resultados de diversos indicadores de atividade econômica, com destaque para a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE, cujo levantamento relativo a junho foi divulgado na sexta-feira.
A PIM apurou que a produção da indústria caiu 1,7% entre maio e junho, retornando ao nível de abril (descontadas as influências sazonais sobre os resultados). Com isso, a indústria -que havia sido a grande responsável pela aceleração do PIB na passagem do trimestre final de 2005 para os três primeiros meses de 2006- fechou o trimestre com alta de apenas 0,5% (contra 1% no período anterior).
É verdade que alguns fatores pontuais prejudicaram o desempenho da indústria em junho -como a realização de três jogos do Brasil na Copa do Mundo em dias úteis. Mas essas influências eram conhecidas, e ainda assim o resultado ficou bastante aquém do que esperavam os analistas.
Decerto o resultado adverso de junho não deve ser visto como indicativo de que foi interrompida a tendência de crescimento da indústria e do PIB. Várias informações parciais relativas a julho -como os dados de produção de automóveis da Anfavea - mostram clara expansão da atividade. Ainda assim, os números decepcionantes da PIM se somam a outras evidências enquanto alerta para as fragilidades do atual crescimento da economia.
Uma dessas fragilidades diz respeito à inversão da contribuição do comércio exterior para o crescimento da economia: de importante fator de expansão, o setor externo se converteu, já no início de 2006, em elemento a trazer contribuição negativa para a variação do PIB -reflexo do fato de que a alta das importações supera amplamente a expansão das exportações.
Dada a marcante valorização pela qual o real já passou e a ausência de uma perspectiva de reversão desse processo, não há por que supor que essa tendência a que o comércio exterior tenha efeito limitador sobre o crescimento da economia deixará de estar presente no restante deste ano e mesmo no próximo.
É também incômodo constatar que a elevação da receita gerada pelas exportações tem se baseado bem mais na evolução favorável dos preços do que no aumento da quantidade exportada. O volume de bens exportados aumentou apenas 2% no primeiro semestre -uma taxa modesta, inferior à média mundial e indicativa, portanto, de perda de espaço dos produtos brasileiros no mercado mundial.
Olhando à frente, além da perda de ímpeto do comércio exterior, preocupa a perspectiva de que em 2007 percam força fatores específicos que têm dado impulso à atividade econômica em 2006. Um exemplo é o reajuste do salário mínimo, que dadas as restrições fiscais dificilmente será tão "generoso" como foi neste ano. Outro exemplo são as despesas públicas, que foram aceleradas em 2006 e muito provavelmente retrocederão em 2007.


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