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Debate frustrante
Regras e artificialismos em excesso, impostos pelos candidatos, deram o tom do primeiro debate eleitoral da TV, que deixou a desejar
Dilma Rousseff (PT), José Serra
(PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio
de Arruda Sampaio (PSOL) estiveram frente a frente, pela primeira
vez, anteontem à noite. Foi, no entanto, decepcionante o primeiro
debate entre os principais candidatos à Presidência da República,
realizado pela TV Bandeirantes.
Repetiu-se no estúdio da emissora algo que já se tornou rotineiro
nas disputas eleitorais. O desempenho dos presidenciáveis acabou sendo pautado por roteiros
meticulosamente desenhados por
marqueteiros, que se beneficiam
de regras (definidas em comum
acordo pelas campanhas) destinadas a engessar o debate e reduzir
ao máximo os riscos de exposição
e tropeço dos concorrentes.
Tudo se torna espetacular e previsível ao mesmo tempo. Em lugar
de discussão mais direta e aberta
prevalecem as estratégias, as artimanhas, os pequenos truques, as
pegadinhas -enfim, a encenação.
Nesse ambiente de excesso de
cuidados e artificialismo, os grandes temas foram preteridos ou tratados com frustrante ligeireza.
Não faltaram, é verdade, alguns
momentos de polarização entre os
dois principais adversários. A iniciativa maior coube a Serra, mais
interessado em chamar Dilma para o confronto.
Houve divergência em relação
aos mutirões de saúde, cuja interrupção no governo Lula o tucano
criticou. A petista divergiu, caracterizando-os como política de
"emergência", sem papel "estruturante" para a área.
O tucano insistiu também nos
gargalos de infraestrutura -das
estradas federais em situação precária aos aeroportos e portos saturados ou obsoletos.
Dilma demonstrou algum nervosismo e hesitou em certos momentos, sobretudo no início do
encontro, revelando dificuldades
para fazer a defesa de um governo
com quase 80% de aprovação popular. Mas, quando Serra se esquivou de defender a gestão de Fernando Henrique Cardoso, alegando não fazer política "de olho no
retrovisor", a petista rebateu. Disse que, embora pudesse ser "confortável" para alguns, não era
"prudente esquecer o passado".
Entre a celebração acanhada
que Dilma fez do período Lula e as
críticas muitas vezes periféricas
que Serra endereçou ao governo
adversário, o debate assumiu contornos tecnocráticos e teve momentos tediosos. Como mostra reportagem de hoje desta Folha,
houve, sobretudo por parte de Dilma, uso enganoso de números,
que foram maquiados ou apresentados de maneira distorcida.
Prensada pelas duas candidaturas, Marina Silva foi alvo ainda
das críticas de Plínio Sampaio,
que, sem nada a perder, deu um
toque de humor e informalidade
ao encontro algo robotizado.
Embora pareça improvável, ganharia a democracia se os responsáveis pelas campanhas oferecessem aos eleitores, nos próximos
debates, a oportunidade de um
confronto mais franco, no qual os
candidatos se apresentassem de
maneira menos estereotipada, superficial e desinteressante.
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