São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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FALÊNCIA GERAL

Um sistema de segurança pública que permite a um delinquente condenado comandar ações criminosas de dentro de um presídio está falido, necessita de uma reformulação total. A propósito, a incapacidade das autoridades públicas de manter fora de ação até mesmo presos que sabidamente lideram quadrilhas poderosas acaba de "desbravar" mais um terreno. No Rio de Janeiro, mesmo sabendo que, de dentro da cadeia, um traficante dera ordem para assassinar cinco pessoas, o Estado foi incapaz de evitar que os crimes acontecessem.
O episódio aconteceu no presídio de Bangu 1, e seu protagonista foi ninguém menos que Luiz Fernando da Costa Pinto, o Fernandinho Beira-Mar, famigerado traficante carioca e com conexões internacionais no crime-inclusive com as Farc, na Colômbia. Promotores estaduais monitoraram as conversas telefônicas em que Beira-Mar determinou os assassínios. Não se sabe ao certo que providências foram tomadas a partir daí. O que se sabe, que as mortes não foram evitadas, já basta para atestar uma falha escandalosa do poder público na proteção da vida.
O que vem ocorrendo em Bangu 1, há alguns anos, é motivo de vergonha nacional. E nem se tente entrar na querela político-eleitoral sobre se o responsável maior pelo desleixo é o ex-governador e candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB) ou se é a governadora e candidata à reeleição Benedita da Silva (PT): ambos têm responsabilidade política por esse descalabro na segurança pública. Um aparelho complexo a serviço do crime enquistado numa penitenciária não se forma da noite para o dia; e Benedita já teve tempo suficiente para, pelo menos, iniciar um processo firme de depuração no presídio.
A imagem que fica das autoridades que foram e das que são responsáveis pelo presídio é, na melhor das hipóteses, a da rendição inconteste aos ditames do crime organizado. O presídio, por paradoxal que pareça, se tornou uma proteção para que facínoras pratiquem seus crimes no mundo exterior, tranquilamente.


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