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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Soberania nacional
Na semana da pátria, está em
curso a coleta de assinaturas em
relação à Alca. Trata-se da Área de Livre Comércio das Américas. Consiste
na proposta de um acordo que consiga reunir os 34 países das Américas,
com exceção de Cuba, na perspectiva
de integração social e política com base no modelo de livre comércio. A
proposta surgiu na 1ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo das Américas,
que se realizou em Miami no ano de
1994. O atual governo dos Estados
Unidos retomou a intenção de formar
na América o maior bloco da economia globalizada, atingindo 800 milhões de habitantes.
À primeira vista, o acordo abriria espaço para estreitar laços de cooperação entre os países, à semelhança do
que ocorre na Comunidade Européia.
No entanto as bases do acordo apresentam graves aspectos negativos, que
requerem profunda reflexão de modo
a assegurar a dignidade dos indivíduos e das comunidades.
1. A questão mais séria é a da soberania das nações. Com efeito, são muito
pesadas as exigências do capital financeiro internacional, que reduzem o
poder de decisão dos dirigentes dos
países e impõem restrições à qualidade de vida da população. O comércio e
os investimentos desligam-se do controle da cidadania e da autoridade dos
governos, passando para as corporações transnacionais e tribunais comerciais o poder de operar de forma
independente e secreta. Os mecanismos de relação entre o Estado e os investidores permitirão às corporações
estrangeiras gozar de direitos particulares na utilização de instância de arbitragem internacional, limitando o dever e a capacidade dos governos de
proteger o ambiente, a saúde e outros
valores diante dos interesses comerciais e prioritários.
2. A proteção indiscriminada aos investimentos, com garantia total para
seus lucros, prejudica a promoção das
políticas sociais. Entre as consequências negativas da aplicação dos princípios da Alca está o risco de perder
conquistas na área dos direitos dos
trabalhadores nos diferentes países
-como a diminuição de férias, a alteração do 13º salário, o fim da licença
de maternidade, da aposentadoria e
de outros.
3. Como prova dessa situação deletéria, é preciso considerar o que vem
acontecendo em países que adotaram
políticas semelhantes às estabelecidas
pela Alca. São os casos do México e do
Canadá, onde cresceu o número dos
empobrecidos e diminuíram os postos de trabalho. Merece reflexão o recente documento elaborado pela Conferência dos Bispos do Canadá com o
título "Vendendo o Futuro". O texto
aponta os detrimentos da Nafta e da
Alca e alerta para o fato de que a produção de riquezas não leva à distribuição mais equitativa dos benefícios,
pois a "nova economia" produz aceleradamente maior desigualdade entre
ricos e pobres.
4. É por isso que o exercício da nossa
soberania nos leva a colocar em questão e recusar a proposta da Alca, que
traz vantagens apenas para as grandes
empresas internacionais.
O atual plebiscito nacional e o "grito
dos excluídos" servirão para despertar
no dia da pátria a consciência dos cidadãos em defesa da soberania, da
justiça social e da fraternidade entre os
povos.
À igreja, em cumprimento de sua
responsabilidade diante de Deus e
unida às forças vivas da sociedade,
compete salvaguardar os valores éticos, contribuir para humanizar os
acordos internacionais e encontrar caminhos justos alternativos para assegurar condições dignas de vida para
todos.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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