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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Transgênicos e a brilhante sentença

Inicia-se na próxima quarta-feira, em Cancun (México), mais uma rodada de negociações na OMC. Na última reunião (Doha, Qatar), os europeus concordaram em reduzir os subsídios à agricultura, mas tudo foi escrito em uma linguagem vaga e maliciosamente evasiva.
Em reunião conjunta, realizada em meados de agosto, a União Européia e os Estados Unidos firmaram uma posição de reduzir só alguns subsídios, e mesmo assim só para países que não são fortes na agropecuária -o que atinge o Brasil. Ademais, não disseram quais são os produtos que entrarão na lista de redução nem a data do início do processo.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, terá muito o que reclamar em Cancun. O protecionismo prejudica os brasileiros. Vejam o caso do trigo. Na década de 90, o Brasil produzia apenas 25% do consumo nacional. Hoje, produz mais de 50%. A safra de 2003 será de 5 milhões de toneladas. A área plantada aumentou 16% em relação à do ano passado.
Isso é ótimo para o mercado interno e saudável para a nossa balança comercial, pois podemos gastar os nossos dólares com outros produtos. O aumento da produção e da produtividade se deveu aos preços favoráveis no mercado internacional, às pesquisas de melhoramento genético e ao uso de biotecnologia, que aperfeiçoaram o produto de forma expressiva.
A biotecnologia acena com a possibilidade de assegurar não só mais produção mas, sobretudo, melhor qualidade a preços menores. Os novos grãos carregam consigo uma série de complementos vitamínicos e fatores de resistência que podem fazer bem à saúde das pessoas.
Tais avanços continuam sendo atacados pelos que vêem nesses alimentos uma fonte de doenças e de alterações da genética humana. Até o momento, nada foi comprovado, como bem atesta a longa e brilhante sentença da desembargadora Selene Maria de Almeida, proferida no mês passado no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Aconselho todos os que não confiam nos transgênicos a lerem esse parecer de cerca de 700 páginas.
Todos sabem que, por trás desse debate pseudocientífico, há uma aguerrida batalha comercial. Sim, porque os alimentos transgênicos demandam uma quantidade infinitamente pequena de produtos químicos -o que também é bom para a saúde-, mas ferem os negócios dos que vivem da produção e da comercialização desses insumos.
No caso do trigo, variedades transgênicas são resistentes às principais doenças, exigem poucos produtos químicos e atingem a produtividade de 5.000 quilos por hectare quando a média é de menos de 4.000 quilos por hectare. Tudo isso é muito promissor para os seres humanos e para a economia.
Não podemos ficar inertes no meio das manobras dos protecionistas vindas principalmente dos países europeus. Enquanto isso, nossos concorrentes inundam o mercado com grãos geneticamente modificados deixando o Brasil em desvantagem na acirrada concorrência internacional.
Esse debate não pode prosseguir na base do "eu acho".
O governo brasileiro tem de assumir uma posição mais firme, pois, afinal, somos um dos maiores produtores agrícolas, e a agricultura está sendo o carro-chefe do nosso anêmico crescimento econômico.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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