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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Brasil brasileiro

RIO DE JANEIRO - Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. Os dois não acabaram, ainda, mas a frase continua valendo, desde que me sigam os que forem brasileiros, dos filhos deste solo mãe gentil e pátria amada.
Certo: nossos bosques têm mais flores, nossas flores mais amores e, se erguemos da justiça o braço forte, veremos que um filho seu não foge à luta nem teme quem te adora a própria morte. É bem verdade que, nas horas vagas, que são muitas, somos o brasileiro cordial, que levanta o lindo pendão da esperança, símbolo augusto da paz. (Tive um tio que se chamava Augusto e sempre que ouvia o hino da bandeira pensava que o augusto citado fosse ele).
Independência ou morte -o grito às margens plácidas do Ipiranga está sendo prorrogado pela primeira medida provisória da nova nação, onde em se plantando tudo dá, até o coqueiro que dá coco. Não veremos país nenhum como este, e por isso me ufano e amo-o sem deixá-lo, desde que o último apague a luz do aeroporto.
"A Pátria!" -disse o tribuno com a voz embargada. E mais não disse nem precisava dizer, todos entenderam que pátria era, a dele, tribuno, e a nossa, onde o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da própria neste instante.
Um raio de esperança aterra e desce dentro de mais um minuto estaremos no Galeão, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, terra mais garrida do que a Alda Garrido, quem foi que inventou o Brasil? Não fui eu nem ninguém, foi a mulata assanhada, que é luxo só, abençoada por Deus e bonita por natureza, cujo seio formoso retrata este céu de puríssimo azul, a beleza sem par destas matas e o esplendor do Cruzeiro do Sul.
"Tenho dito!" -disse o orador que não dissera nada que prestasse. Ou o Brasil acaba com os oradores ou os oradores acabam com o Brasil.


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