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Sem exceções
Voto secreto deve acabar para todas as votações no Congresso, tal como prevê emenda aprovada anteontem pela Câmara
NUMA VITÓRIA parcial da
cidadania, a Câmara
dos Deputados aprovou em primeiro turno a proposta de emenda constitucional que acaba com o voto
secreto em plenário. Para valer, o
projeto precisa passar por um segundo turno na Casa e por dois
escrutínios no Senado, todos por
maioria qualificada de 3/5.
Ao que tudo indica, o sigilo das
sessões de cassação de congressistas acusados de quebra de decoro está mesmo com os dias
contados. O avanço ocorre não
porque a maioria dos parlamentares julgue que o fim do segredo
é o melhor para o país. Trata-se
de um raro caso em que a pressão
da opinião pública os forçou a seguir por esse caminho.
A vitória da emenda pondo fim
ao segredo parlamentar na Câmara foi facilitada pelo fato de a
votação do projeto ter sido aberta. Tanto isso é verdade que a
emenda passou por 383 a zero.
Nem os deputados "sanguessugas", que se beneficiariam do sigilo, tiveram coragem de defender a manutenção do instituto.
Outro ponto positivo a destacar é que, se a proposta for aprovada, valerá também para todas
as Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais do país.
O Senado, porém, dá indícios
de que vai reintroduzir o sigilo
em determinadas votações, como eleição para as Mesas da Câmara e do Senado, aprovação de
autoridades -ministros do Supremo e o procurador-geral da
República, por exemplo- e derrubada de vetos presidenciais.
Há argumentos ponderáveis
em favor da votação secreta nesses casos. O Executivo teria um
mapa para retaliações contra
parlamentares que contrariassem o Planalto. Os presidentes
eleitos das Casas, idem, contra os
que não endossaram sua candidatura. Um senador poderia estar em apuros se, no Supremo, tivesse de ser julgado por um magistrado cuja indicação à corte
fora recusada pelo parlamentar.
Essas não são questões triviais.
Esta Folha, contudo, acredita
que o princípio da publicidade
dos atos dos congressistas deve
prevalecer. O parlamentar representa milhares, às vezes milhões, de cidadãos e precisa prestar contas de cada um de seus
atos. Não há como fazê-lo se um
elenco fundamental de suas manifestações estiver sob sigilo.
As dificuldades provocadas pelo voto aberto não são insuperáveis. No caso do senador que se
veja na contingência de ser julgado por ministro cujo nome tenha rejeitado, o parlamentar poderá sempre alegar a suspeição
do juiz -haverá outros dez para
apreciar o processo.
O temor de retaliação, desfechada pelo Executivo ou pelas
Mesas do Congresso, também se
combate com publicidade. Perseguições e discriminações são
passíveis de serem detectadas e
denunciadas. O que não procede
é congressistas defenderem o sigilo como uma espécie de reserva de mercado para o "direito"
de trair, sem ônus nenhum, o
seu bloco parlamentar, seja ele o
governista, seja o opositor.
Melhor farão os senadores,
portanto, se mantiverem o texto
aprovado anteontem pelos deputados -pelo fim do sigilo em
toda votação no Legislativo.
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