São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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VALDO CRUZ

Sem final

BRASÍLIA - A grampolândia deu pane no governo Lula. Fosse nos velhos tempos, diria que ele se enrolou nos fios das escutas telefônicas. Mas isso é coisa do passado. As novas tecnologias banalizaram a bisbilhotagem da vida alheia e uma delas fez a equipe presidencial bater cabeça nos últimos dias.
Se fosse para resumir, diria que Nelson Jobim denunciou, Lula se assustou, Paulo Lacerda dançou e Jorge Felix se esquivou. Tudo por causa de uma maletinha, tipo 007, recheada de mecanismos de escuta telefônica e ambiental.
O ministro da Defesa chegou a ser celebrado dentro do Planalto como o salvador da pátria. Aquele que deu xeque-mate na turma da inteligência e levou Lula a colocar na geladeira o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda. Até parecia que a crise estava solucionada ali, depois que Jobim contou ao presidente que a Abin tinha a engenhoca tão desejada pelos arapongas. Que nada. A confusão só estava no início.
Depois o Exército, teoricamente subordinado a Jobim, disse que não, o ministro insistiu que sim, fizeram um laudo meio assim, e até agora ninguém sabe se a Abin tem mesmo a tal maletinha.
A barafunda embaralhou a cabeça dos palacianos. Enquanto uns garantiam que o general Felix, chefe da Abin, estava na berlinda, outros diziam que Jobim falou demais, sem conhecimento de causa, e pode ter levado o presidente a cometer uma injustiça com Lacerda.
Enquanto a balbúrdia reinava por aqui, o presidente Lula se mandou por aí. Foi se lambuzar no pré-sal e subir em palanques país afora. Diríamos que foi fazer o que mais gosta. E deixou de lado aquilo que odeia, gerenciar crises.
Só que a do grampo ainda circula por aí, espalhando fantasmas de novas gravações. Por mais que Lula prefira se deliciar com as benesses de sua alta popularidade, bem que poderia dedicar algumas horinhas para que essa novela não tenha o mesmo fim de outras em seu governo: ficar sem final.


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