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ROGÉRIO GENTILE
Poluição e negócio
SÃO PAULO - É preciso olhar com
muita desconfiança e certo pessimismo a decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o Conama, de restringir a emissão de poluentes dos carros a partir de 2014.
Desconfiança porque, embora a
medida seja positiva, não há garantia nenhuma de que será cumprida.
Empresas automobilísticas e Petrobras já deixaram claro que qualidade de vida não é o seu negócio.
Há sete anos o mesmo Conama
assinou resolução segundo a qual a
partir de janeiro de 2009 deveria
haver redução drástica no teor de
enxofre do diesel brasileiro. Mas estatal e montadoras não se mexeram
e o prazo foi adiado por quatro anos.
A própria data de 2014 estipulada
para a redução dos poluentes dos
carros é intrigante. Por que tanto
tempo? As empresas alegam que a
adaptação técnica demora. Será
mesmo? O que explica então que os
veículos exportados pelo Brasil para a Europa já poluam menos? E, lá,
o padrão de emissão desde 2005 é
ambientalmente mais rígido do que
o pretendido aqui para 2014.
O pessimismo fica por conta de
que o controle adotado sobre o
combustível dos carros novos é insuficiente para reduzir efetivamente os efeitos da poluição: estima-se
que quase 20 pessoas por dia morram na Grande SP por doenças causadas ou agravadas pela poluição.
É essencial, antes de tudo, adotar
medidas que desestimulem o transporte individual: pedágio urbano,
limitação de estacionamento nas
ruas, aumento de imposto para carros e motos, ampliação e barateamento do transporte público etc.
Se o apelo pela economia de vidas
pouco sensibiliza, que se faça pela
economia de recursos. O país perde
por ano bilhões e bilhões com gasolina desperdiçada, gastos com saúde (poluição e acidentes) e tempo
perdido nos congestionamentos.
A FGV calcula que só neste último aspecto São Paulo deixa de produzir R$ 26,8 bilhões/ano em riquezas que seriam geradas se as
pessoas estivessem trabalhando em
vez de respirar fumaça no trânsito.
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