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MARINA SILVA
Do pré-sal ao pós-carbono
A DESCOBERTA do petróleo
no pré-sal e suas consequências para o Brasil são
assuntos de enorme importância,
mas estão sendo discutidos de maneira que mais confunde do que esclarece.
Os recursos advindos dessa descoberta deveriam ajudar o país a
construir os meios para a superação, ao longo do tempo, da dependência das energias fósseis e do
modelo de desenvolvimento que
elas simbolizam. Que produz bens
e riqueza material e também pobreza extrema, degradação dos recursos naturais, poluição, doenças.
E se escora em razões que parecem
se bastar, sem levar em conta que
tornam praticamente inalcançável, para a maioria das pessoas,
uma vida digna e saudável.
É absurdo não perceber que a
nova fonte de petróleo, que ainda
será estratégico e indispensável
por décadas, deveria servir ao propósito inovador de criar as condições de trânsito para aquilo que se
mostra cada vez mais inescapável:
uma economia de baixo carbono e
uma sociedade pós-ideologia do
consumo.
Para chegar a esse futuro, é fundamental entendermos hoje como
as prioridades se relacionam. Tomemos a educação no Brasil. Precisa estar no topo das prioridades,
não apenas para ser um sistema
mais eficiente do ponto de vista
tradicional, mas, sim, para colocar
crianças e jovens em diálogo com
os novos paradigmas que serão a
marca deste século. Por sua vez, isso depende de pesquisa científica e
tecnológica para o desenvolvimento de novos materiais, fontes de
energia renovável e práticas produtivas baseadas nos amplos recursos naturais de que o Brasil
dispõe.
Nessa nova sociedade, a redução
da pobreza e das desigualdades sociais será objetivo indissociável da
educação de qualidade, da capacidade tecnológica, da sustentabilidade socioambiental, venham os
recursos de onde vierem.
O ufanismo com os números do
pré-sal não pode jogar para debaixo do tapete a necessidade de mitigar a emissão de carbono, ampliando o combate ao desmatamento e
os programas de reflorestamento.
A novidade, a rigor, só aumenta
nossa responsabilidade ética em
propor metas obrigatórias de emissão de carbono em Copenhague, no
final deste ano. Pré-sal e o papel do
Brasil em Copenhague não são assuntos estanques. São a mesma
equação, embora a discussão em
curso não reflita isso.
O desenho de um novo Brasil
não pode estar contido na camisa
de força da tramitação em regime
de urgência do marco legal do pré-sal, feita para contemplar cronogramas políticos e sem a participação da sociedade, essencial porque
estamos numa democracia e porque as questões reais precisam ter,
pelo menos, chance de vir à tona.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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